Rodrigo Constantino's Blog, page 438
June 5, 2011
Senhores do destino

Rodrigo Constantino
"Entre o estímulo e a resposta, o homem possui a liberdade de escolha." (Viktor Frankl)
O ser humano possui livre-arbítrio? Ou seria ele uma marionete de forças ocultas e determinísticas, sem capacidade de moldar seu próprio destino? O filme "Os agentes do destino", com Matt Damon, trata justamente desta intrigante questão. Um indivíduo com planos previamente traçados decide desafiar seu próprio destino e reescrever seu futuro, rompendo com os obstáculos criados pelos agentes cuja missão é garantir a execução dos planos originais.
Sigmund Freud, em "O futuro de uma ilusão", livro em que trata as religiões como uma "neurose obsessiva da humanidade", escreve: "Mesmo no homem atual os motivos puramente racionais pouco podem fazer contra impulsões apaixonadas. Quão mais fracos, então, eles devem ter sido no animal humano das eras primevas!" Qual o poder de nossas escolhas racionais frente às avassaladoras paixões? E como controlar as paixões? Podemos mesmo escolher ou somos escolhidos por elas?
Ulisses conseguiu usar a razão para enganar suas paixões, ao se amarrar no mastro e ordenar que os marinheiros não o soltassem em hipótese alguma, mesmo diante de novas ordens dizendo o contrário. Ele, sabendo de suas fraquezas e impotência frente ao canto das sereias, decidiu previamente, de maneira racional, o que fazer para se proteger de suas próprias paixões. Será este o limite de nossas forças racionais na batalha contra as paixões? E de onde vem estas paixões?
Em "A ilusão da alma", Eduardo Giannetti trata deste fascinante assunto. Ele questiona logo no começo: "Tudo o que sabemos sobre o mundo e sobre nós mesmos é produto da nossa mente. E o que nos vai pela mente – é produto do quê?" Com base em estudos sobre a neurociência, o autor reconhece seus limites: "Tudo que se passa nessa espantosa 'caixa-preta' – e que é a essência do meu ser – se encontra vedado à minha introspecção". O alerta feito por La Rochefoucauld resume a mensagem do livro: "O homem com freqüência pensa que está no controle quando ele está sendo controlado".
O filósofo pragmático William James teve uma tirada espirituosa sobre o tema cabeludo: "Meu primeiro ato de livre-arbítrio será acreditar no livre-arbítrio". Mas será que ele realmente exerceu nisso um ato de livre escolha? Até que ponto nossas crenças já não estão determinadas? O pior vassalo é aquele que se supõe livre sem sê-lo. E se aquilo que atribuímos à consciência for apenas resultado de ordens ocultas do inconsciente? A terceira "ferida narcísica" da humanidade, após Copérnico e Darwin, diria que o homem não só não está no centro do universo e da criação, como também não é o senhor em sua própria casa.
Em "O caminho para a liberdade", Arthur Schnitzler, que era amigo de Freud, escreve: "Alguma lei é eficaz, inescrutável e inclemente, e nós, os homens, não podemos mudar nada nela. Quem pode se queixar e dizer por que isso acontece justamente comigo? Caso não acontecer com ele, acontecerá com outro... inocente ou culpado como ele". Ao contrário do que dizem os adesivos nos carros dos espíritas seguidores de Kardec, o acaso existe! As coisas que ocorrem em nossas vidas não precisam de um nexo causal o tempo todo. O encontro com o "real", com a falta de sentido, com uma desgraça qualquer, não precisa ser fruto de algo que fizemos, de uma crença nossa, ou de um plano mirabolante qualquer "lá de cima". A frase de caminhão parece mais perto da verdade aqui: "Shit happens".
A questão crucial é como reagimos a estes infortúnios, e até que ponto temos escolha. H.L. Mencken escreveu sobre o livre-arbítrio: "Quando um indivíduo se confronta com alternativas, não é apenas a sua vontade que escolhe entre elas, mas também o seu ambiente, seus preconceitos hereditários, sua raça, sua cor, sua condição de servidão". Ele acrescenta: "Não consigo me lembrar de ter desempenhado um único ato inteiramente voluntário. Toda a minha vida parece ser uma longa série de acidentes inexplicáveis, e não apenas inevitáveis, mas até ininteligíveis". Para Mencken, "dizer que posso modificar essa personalidade por um ato voluntário é tão ridículo quanto dizer que posso modificar a curvatura do cristalino de meus olhos".
Mas, se não temos livre-arbítrio pleno, como fica a questão da responsabilidade por nossos atos? Mencken explica que a ausência do livre-arbítrio não altera as conseqüências dos atos, sejam voluntários ou não: "Se assalto um banco por minha livre decisão ou em resposta a alguma necessidade interior insondável, não importa: vou para a mesma cadeia. Na guerra, morrem tanto os soldados convocados à força quanto os voluntários". Mesmo que o psicopata não tenha tanta escolha sobre seus atos, ele deve ser punido e afastado da sociedade. Talvez a crença no livre-arbítrio absoluto seja ainda mais perigosa nestes casos, pois vamos pensar que mesmo um psicopata pode ser "reeducado" e se regenerar como um bom samaritano. Pode mesmo?
Mencken termina seu texto de forma um tanto espirituosa: "Mas agora começo a pensar que chapinhei longe demais na água benta das ciências sagradas, e que é melhor dar o fora antes que me esfolem. Essa prudente retirada é puramente determinística. Não a atribuo à minha própria sagacidade; atribuo-a inteiramente àquela singular gentileza que o destino sempre me reserva. Se eu fosse livre, provavelmente continuaria a escrever – e depois me arrependeria".
Para o cientista britânico Robert Winston, "nossas mentes estão profundamente enraizadas em nosso passado evolutivo; nossa razão está engolfada em camadas de instinto, preconceitos, desejos repletos tanto de egoísmo quanto de generosidade, calçados pela vontade de sobreviver e pela vontade de reproduzir". O comportamento humano estaria à mercê de muitas forças, tanto biológicas como cognitivas e culturais. O instinto "é essencialmente a parte de nosso comportamento que não é fruto do aprendizado". Por isso o comportamento dos homens é instável e imprevisível. Suas possibilidades são infinitas.
De volta ao filme do começo, o personagem principal era vítima dos "agentes do destino", que não permitiam que ele ficasse com a mulher que lhe despertou forte desejo. Mas até que ponto não era ele mesmo se boicotando? Sempre perto dos momentos decisivos em sua carreira política, ele mesmo fazia algo estúpido para se destruir. Esta repetição auto-destrutiva era seu "destino", até que ele foi atravessado por um desejo mais forte, despertado pela mulher que conhecera. Não estava nos "planos" isso. Para os religiosos, os planos são escritos pelo "presidente", como é chamado no filme. Para os ateus, não há necessidade de um plano superior: era ele mesmo quem havia traçado aquela rota, voluntariamente ou não.
Somente com um desejo ainda mais forte de alterar seu curso ele foi capaz de vencer os obstáculos e reescrever sua história. O caderno com os planos de sua vida agora estavam com o futuro em branco. Caberia a ele decidir o que colocar naquelas páginas. Sob inúmeras influências e forças exógenas, sem dúvida. Sua bagagem cultural, sua genética, sua história, tudo contribuindo para moldar suas escolhas, em graus distintos. Mas não necessariamente as determinando. As pessoas podem mudar, podem melhorar, mesmo aceitando que não possuem total controle sobre suas vidas. Ele descobrira que os verdadeiros senhores do destino, ainda que com severas limitações, somos nós mesmos.
Published on June 05, 2011 08:29
June 3, 2011
E agora, Bernanke?

Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Saíram hoje novos dados ruins da economia americana. A criação de empregos fora do setor rural foi de míseros 54 mil vagas em maio, enquanto o esperado era 165 mil. Abril foi revisado para baixo em 12 mil vagas. A taxa de desemprego foi para 9,1%, e o mercado esperava 8,9% na média. Nos últimos dois meses, os dados da economia americana vêm se deteriorando sensivelmente, o que gera tensão nos mercados. Será que há o risco de um "duplo mergulho"?
Muitos economistas alertaram sobre os riscos destas medidas expansionistas. Enquanto Paul Krugman, ícone dos keynesianos, reclamava que o problema era o pouco estímulo, outros economistas mais céticos argumentavam que não se produz crescimento sustentável desta forma. A analogia utilizada era a do cavalo que pode ser levado até o rio, mas não pode ser forçado a beber a água. O governo pode inundar o rio com mais liquidez, mas isso não necessariamente se transforma em mais consumo de água pelo cavalo. O mercado demonstra enorme receio com o futuro, pois sabe que a conta terá de ser paga um dia. As incertezas com tanta hiperatividade do governo produzem reação negativa nos consumidores, que passam por fase de desalavancagem.
Outra metáfora que poderia ser usada é a de um ciclista que recebe um forte empurrão artificial. Sua velocidade pode aumentar no primeiro momento, mas se ele não melhorou sua condição física, se não ocorreu nenhuma mudança estrutural, então a bicicleta começa a perder velocidade e pode até cambalear. Talvez a economia americana tenha chegado neste momento delicado. O que fazer para crescer novamente e gerar empregos? O ideal seria justamente o contrário do que Obama e Bernanke acreditam: retirar estímulos, cortar gastos públicos, sinalizar reformas estruturais, principalmente desarmando a bomba-relógio previdenciária e do Medicare, e reduzir burocracia e impostos, assim como intervenções arbitrárias do governo. Mas sabemos que isso não passa de uma ilusão.
Portanto, fica a questão: e agora, Bernanke? Se a economia americana realmente embicar, e o presidente Obama continuar com seu populismo, qual será a alternativa? Um novo programa de estímulo, o terceiro? Não vamos esquecer que o primeiro programa de estímulo, logo depois da crise de 2008, foi feito com o argumento de que, sem ele, o desemprego poderia chegar em 10%. Estamos quase lá, dois anos e meio e muitos trilhões de dólares depois. Quanto será suficiente para o Fed jogar a toalha e reconhecer que estímulos artificiais podem não ser a cura, e sim o veneno?
Published on June 03, 2011 08:39
Brazil's economy: Too hot
The Economist
Latin America's biggest economy is more fragile than it appears
BRAZIL has a lot to be proud of. A decade of faster growth and progressive social policies has brought a prosperity that is ever more widely shared. The unemployment rate for April, at 6.4%, is the lowest on record. Credit is booming, particularly to the swelling numbers who have moved out of poverty and into the middle class. Income inequality, though still high, has fallen sharply. For most Brazilians life has never been so good.
That success is partly thanks to good luck, in the form of booming commodity prices. But it is also the result of good policies. A country once known for its macroeconomic incompetence has maintained an enviable stability, deftly navigating the 2008 financial crisis as well as the more recent influx of foreign capital. Not surprisingly, perhaps, many of Brazil's economic officials now have an air of smugness about them, as they argue that the rest of the world has more to learn from Brazil than vice versa.
The timing of such complacency could not be worse. The economy is overheating. The government is stalling on a deeper reform agenda that is essential to boost Brazil's long-term growth and fiscal stability. President Dilma Rousseff's growing political problems do not help: her chief of staff, Antonio Palocci, is under fire over fat consulting fees (see article). All this adds up to a warning: Brazil's economy is heading for trouble.
Inflation is 6.5% and rising. It is driven (as elsewhere) by food and fuel costs, but the tightness of Brazil's labour market suggests that it could easily become entrenched as workers expect higher prices and demand higher wages. The jobless rate is well below the level that is consistent with stable prices. Although professional forecasters' expectations of future inflation have stabilised, the proportion of ordinary folk expecting higher prices has risen. Wage gains in some sectors are already running into double digits. If the labour market remains red-hot, stubborn and creeping inflation seems all too likely—especially if (as seems probable) foreign investors eventually become alarmed and the exchange rate weakens.
Give it a squeeze
The best way to counter the inflation risk is through tighter macroeconomic policies. Brazil's central bank has been raising interest rates, but monetary conditions are still looser than before the financial crisis in 2008, when joblessness was much higher. Brazilians fret, reasonably, that faster rate rises will attract even more foreign capital. Lured by high interest rates, investors have piled into the country, sending the currency soaring to an increasingly overvalued rate, despite an expanding arsenal of taxes designed to deter them. Brazilian officials are right to worry about the impact of foreign capital flows, but their emphasis on controls and fear of raising rates have distracted them from a more potent tool: tighter fiscal policy.
Ms Rousseff's government brags about its fiscal squeeze. Thanks to strong revenues and a slowdown in investment spending, the primary budget (ie, excluding interest payments) is on track to hit a surplus of almost 3% of GDP. But that is not nearly bold enough. To dampen overall demand growth and reduce Brazil's real interest rates, the government needs far more ambitious fiscal consolidation: with the economy growing strongly, the overall budget (ie, including interest payments) should be in surplus, especially if the government is to have the scope for a fiscal stimulus when the next recession comes. Worse, today's gains are coming from the wrong sources; rather than slowing investment, the state should be squeezing its transfer payments. Nor are the gains likely to be sustained. Under current rules, Brazil's minimum wage will rise by 7.5% in real terms next year—at huge fiscal cost, since pension payments are linked to the minimum wage.
Tighter fiscal policy is Brazil's best defence against short-term economic trouble. An overhaul of government is also the route to boosting longer-term growth. A streamlined state will improve productivity growth as well as Brazil's saving and investment rates. Pension reform is urgently needed in a country that is ageing fast, has absurdly generous pensions and in which the average woman retires at 51. So, too, is an overhaul of Brazil's fiendishly complicated and distortive tax system.
Such reforms are difficult, and tempting to put off. But without them Latin America's biggest success story will start to look a lot less lustrous.
Latin America's biggest economy is more fragile than it appears
BRAZIL has a lot to be proud of. A decade of faster growth and progressive social policies has brought a prosperity that is ever more widely shared. The unemployment rate for April, at 6.4%, is the lowest on record. Credit is booming, particularly to the swelling numbers who have moved out of poverty and into the middle class. Income inequality, though still high, has fallen sharply. For most Brazilians life has never been so good.
That success is partly thanks to good luck, in the form of booming commodity prices. But it is also the result of good policies. A country once known for its macroeconomic incompetence has maintained an enviable stability, deftly navigating the 2008 financial crisis as well as the more recent influx of foreign capital. Not surprisingly, perhaps, many of Brazil's economic officials now have an air of smugness about them, as they argue that the rest of the world has more to learn from Brazil than vice versa.
The timing of such complacency could not be worse. The economy is overheating. The government is stalling on a deeper reform agenda that is essential to boost Brazil's long-term growth and fiscal stability. President Dilma Rousseff's growing political problems do not help: her chief of staff, Antonio Palocci, is under fire over fat consulting fees (see article). All this adds up to a warning: Brazil's economy is heading for trouble.
Inflation is 6.5% and rising. It is driven (as elsewhere) by food and fuel costs, but the tightness of Brazil's labour market suggests that it could easily become entrenched as workers expect higher prices and demand higher wages. The jobless rate is well below the level that is consistent with stable prices. Although professional forecasters' expectations of future inflation have stabilised, the proportion of ordinary folk expecting higher prices has risen. Wage gains in some sectors are already running into double digits. If the labour market remains red-hot, stubborn and creeping inflation seems all too likely—especially if (as seems probable) foreign investors eventually become alarmed and the exchange rate weakens.

Give it a squeeze
The best way to counter the inflation risk is through tighter macroeconomic policies. Brazil's central bank has been raising interest rates, but monetary conditions are still looser than before the financial crisis in 2008, when joblessness was much higher. Brazilians fret, reasonably, that faster rate rises will attract even more foreign capital. Lured by high interest rates, investors have piled into the country, sending the currency soaring to an increasingly overvalued rate, despite an expanding arsenal of taxes designed to deter them. Brazilian officials are right to worry about the impact of foreign capital flows, but their emphasis on controls and fear of raising rates have distracted them from a more potent tool: tighter fiscal policy.
Ms Rousseff's government brags about its fiscal squeeze. Thanks to strong revenues and a slowdown in investment spending, the primary budget (ie, excluding interest payments) is on track to hit a surplus of almost 3% of GDP. But that is not nearly bold enough. To dampen overall demand growth and reduce Brazil's real interest rates, the government needs far more ambitious fiscal consolidation: with the economy growing strongly, the overall budget (ie, including interest payments) should be in surplus, especially if the government is to have the scope for a fiscal stimulus when the next recession comes. Worse, today's gains are coming from the wrong sources; rather than slowing investment, the state should be squeezing its transfer payments. Nor are the gains likely to be sustained. Under current rules, Brazil's minimum wage will rise by 7.5% in real terms next year—at huge fiscal cost, since pension payments are linked to the minimum wage.
Tighter fiscal policy is Brazil's best defence against short-term economic trouble. An overhaul of government is also the route to boosting longer-term growth. A streamlined state will improve productivity growth as well as Brazil's saving and investment rates. Pension reform is urgently needed in a country that is ageing fast, has absurdly generous pensions and in which the average woman retires at 51. So, too, is an overhaul of Brazil's fiendishly complicated and distortive tax system.
Such reforms are difficult, and tempting to put off. But without them Latin America's biggest success story will start to look a lot less lustrous.
Published on June 03, 2011 07:05
A economia brasileira: uma cigarra que ganhou na loteria
Rodrigo Constantino, Valor Econômico - Palavra do Gestor
A economia brasileira contou com a sorte grande nos últimos anos. O grande responsável por isso foi o acelerado crescimento chinês, que puxou o preço das commodities.
As reduzidas taxas de juros nos países desenvolvidos jogaram mais lenha na fogueira, ajudando os países com vastos recursos naturais. Nossos termos de troca, ou seja, a razão entre o que exportamos e o que importamos, deram um salto incrível desde 2003. Essa fantástica melhora se disseminou por toda economia.
Os dados macroeconômicos melhoraram, o país acumulou reservas internacionais, o crédito deslanchou e o setor privado aproveitou o bom momento para emitir dívida e capital. A moeda se apreciou bastante, e os ativos brasileiros passaram a valer mais. O boom chinês foi uma bênção para países como Brasil e Austrália. A correlação entre suas moedas desde 2003 é espantosamente alta.
Se antes mil toneladas de minério de ferro compravam determinada quantidade de televisores, hoje a mesma quantidade de minério compra dez vezes mais! Os habitantes dos países com vastos recursos naturais demandados pelos chineses enriqueceram rapidamente nos últimos anos. Mas o que pode ser negativo neste cenário, que à primeira vista parece tão promissor?
Fosse uma formiga responsável que tivesse tirado a sorte grande, tudo seria ótimo. Os cidadãos aproveitariam as oportunidades novas para investir mais e obter ganhos sustentáveis de produtividade, a educação seria alvo de melhorias substanciais com foco no longo prazo e até um fundo de reserva seria criado para os dias chuvosos, que são inevitáveis. Mas a triste realidade é que, no caso brasileiro, uma cigarra foi quem ganhou na loteria. Com demanda reprimida há anos e um horizonte temporal demasiadamente curto, ela partiu para o consumo calcado em crédito, um modelo claramente insustentável.
Um enorme agravante é a demanda insaciável do governo brasileiro por recursos. Como ele arrecada quase 40% do PIB, e não investe nem 1%, esses ganhos significativos dos termos de troca acabaram se transformando em mais bolsas assistencialistas, mais empreguismo no setor público e mais crédito estatal beneficiando grandes empresas próximas ao governo. A bolada da loteria chinesa virou gastança estatal ou má alocação de recursos por critérios políticos.
Como não ocorreram os investimentos em infraestrutura nem as reformas estruturais que viabilizariam um choque de produtividade, os gargalos econômicos logo ficaram evidentes. O país está com a menor taxa de desemprego do histórico calculado e inexiste hiato do produto. Em outras palavras, a economia está superaquecida após os estímulos do governo, possíveis graças às mudanças nos termos de troca. O resultado é uma inflação no topo da meta já elevada do BC, de 6,5%. E não se trata de uma inflação de oferta, causada pela alta das commodities, mas sim uma inflação de demanda, com o superaquecimento do setor de serviços.
Eis o quadro simplificado até aqui. Como ações são máquinas antecipatórias, muito desse cenário já está no preço do Ibovespa. Estrangeiros jogaram a toalha e bateram em retirada. Muitos fundos estão leves, com risco reduzido. Para frente, podemos apenas levantar hipóteses. Sazonalmente, a inflação tende a ceder nessa época. E com a queda das commodities, é possível que os próximos dados mensais se aproximem de zero. Se isso ocorrer e o cenário internacional permanecer estável, então pode ser que o Ibovespa se recupere temporariamente, com o alívio do pessimismo crescente do mercado.
Mas se o governo cantar vitória antes do tempo e encerrar os já tímidos esforços para conter o dragão inflacionário, os problemas se agravarão à frente. O cenário será de queda ainda mais acentuada da economia em 2012 e depois. Nesse caso, os investidores não terão uma boa opção na bolsa, de forma geral. O prognóstico mais provável de médio prazo não parece muito animador, uma vez que os desenvolvimentistas no poder demonstram acreditar realmente nesse modelo insustentável.
A aposta em Brasil depende muito da visão sobre o que acontece na China. Esse será o tema de um próximo artigo, mas posso adiantar que vejo alguns sinais preocupantes de esgotamento do modelo chinês. Se Deus é mesmo brasileiro, Deus queira então que a China possa evitar um "hard landing", pois isso seria catastrófico para o Brasil. Resta aos investidores rezar e se preparar para o pior, uma vez que do governo não se pode esperar grande coisa. A cigarra eufórica pode estar entrando na fase da ressaca.
Rodrigo Constantino é sócio da Graphus Capital
A economia brasileira contou com a sorte grande nos últimos anos. O grande responsável por isso foi o acelerado crescimento chinês, que puxou o preço das commodities.
As reduzidas taxas de juros nos países desenvolvidos jogaram mais lenha na fogueira, ajudando os países com vastos recursos naturais. Nossos termos de troca, ou seja, a razão entre o que exportamos e o que importamos, deram um salto incrível desde 2003. Essa fantástica melhora se disseminou por toda economia.
Os dados macroeconômicos melhoraram, o país acumulou reservas internacionais, o crédito deslanchou e o setor privado aproveitou o bom momento para emitir dívida e capital. A moeda se apreciou bastante, e os ativos brasileiros passaram a valer mais. O boom chinês foi uma bênção para países como Brasil e Austrália. A correlação entre suas moedas desde 2003 é espantosamente alta.
Se antes mil toneladas de minério de ferro compravam determinada quantidade de televisores, hoje a mesma quantidade de minério compra dez vezes mais! Os habitantes dos países com vastos recursos naturais demandados pelos chineses enriqueceram rapidamente nos últimos anos. Mas o que pode ser negativo neste cenário, que à primeira vista parece tão promissor?
Fosse uma formiga responsável que tivesse tirado a sorte grande, tudo seria ótimo. Os cidadãos aproveitariam as oportunidades novas para investir mais e obter ganhos sustentáveis de produtividade, a educação seria alvo de melhorias substanciais com foco no longo prazo e até um fundo de reserva seria criado para os dias chuvosos, que são inevitáveis. Mas a triste realidade é que, no caso brasileiro, uma cigarra foi quem ganhou na loteria. Com demanda reprimida há anos e um horizonte temporal demasiadamente curto, ela partiu para o consumo calcado em crédito, um modelo claramente insustentável.
Um enorme agravante é a demanda insaciável do governo brasileiro por recursos. Como ele arrecada quase 40% do PIB, e não investe nem 1%, esses ganhos significativos dos termos de troca acabaram se transformando em mais bolsas assistencialistas, mais empreguismo no setor público e mais crédito estatal beneficiando grandes empresas próximas ao governo. A bolada da loteria chinesa virou gastança estatal ou má alocação de recursos por critérios políticos.
Como não ocorreram os investimentos em infraestrutura nem as reformas estruturais que viabilizariam um choque de produtividade, os gargalos econômicos logo ficaram evidentes. O país está com a menor taxa de desemprego do histórico calculado e inexiste hiato do produto. Em outras palavras, a economia está superaquecida após os estímulos do governo, possíveis graças às mudanças nos termos de troca. O resultado é uma inflação no topo da meta já elevada do BC, de 6,5%. E não se trata de uma inflação de oferta, causada pela alta das commodities, mas sim uma inflação de demanda, com o superaquecimento do setor de serviços.
Eis o quadro simplificado até aqui. Como ações são máquinas antecipatórias, muito desse cenário já está no preço do Ibovespa. Estrangeiros jogaram a toalha e bateram em retirada. Muitos fundos estão leves, com risco reduzido. Para frente, podemos apenas levantar hipóteses. Sazonalmente, a inflação tende a ceder nessa época. E com a queda das commodities, é possível que os próximos dados mensais se aproximem de zero. Se isso ocorrer e o cenário internacional permanecer estável, então pode ser que o Ibovespa se recupere temporariamente, com o alívio do pessimismo crescente do mercado.
Mas se o governo cantar vitória antes do tempo e encerrar os já tímidos esforços para conter o dragão inflacionário, os problemas se agravarão à frente. O cenário será de queda ainda mais acentuada da economia em 2012 e depois. Nesse caso, os investidores não terão uma boa opção na bolsa, de forma geral. O prognóstico mais provável de médio prazo não parece muito animador, uma vez que os desenvolvimentistas no poder demonstram acreditar realmente nesse modelo insustentável.
A aposta em Brasil depende muito da visão sobre o que acontece na China. Esse será o tema de um próximo artigo, mas posso adiantar que vejo alguns sinais preocupantes de esgotamento do modelo chinês. Se Deus é mesmo brasileiro, Deus queira então que a China possa evitar um "hard landing", pois isso seria catastrófico para o Brasil. Resta aos investidores rezar e se preparar para o pior, uma vez que do governo não se pode esperar grande coisa. A cigarra eufórica pode estar entrando na fase da ressaca.
Rodrigo Constantino é sócio da Graphus Capital
Published on June 03, 2011 03:47
June 2, 2011
Lula em Cuba

O ex-presidente Lula, como sempre gostou de fazer, foi a Cuba lamber as botas da mais longa ditadura do mundo. Vai gostar de ditador assim em Cuba!
Published on June 02, 2011 10:44
Resultado da segunda enquete
Por que o PT só se "defende" acusando outros? Eis a pergunta da segunda enquete do blog. Foram 143 votos no total, e com 85% de votos, venceu a opção: Porque o PT é o partido mais "cara de pau" do Brasil. E não é?
Published on June 02, 2011 09:57
June 1, 2011
A economia em uma sociedade justa
Segue meu artigo no OrdemLivre.org sobre como deveria ser a economia numa sociedade justa, escrito para o prêmio Templeton.
Published on June 01, 2011 08:40
May 31, 2011
Dia mundial sem tabaco

No "Dia mundial sem tabaco", eis a mensagem que eu gostaria de deixar: O FASCISMO FAZ MAIS MAL À SAÚDE QUE O CIGARRO! Quem tinha verdadeira obsessão pela "saúde perfeita" era Hitler. Muitas coisas fazem mal à saúde, como fritura, gordura, ócio e marxismo. Nem por isso vamos defender a proibição destas substâncias. O critério não pode ser esse, de fazer mal à saúde. Muito mais importante é a LIBERDADE DE ESCOLHA INDIVIDUAL. Cada um deve viver à sua maneira. O fascismo moderno, sob o manto do politicamente correto, representa um perigo mil vezes maior que o tabaco. Lembrem disso na data de hoje.
Published on May 31, 2011 11:07
O Ódio a Israel
Rodrigo Constantino, O GLOBO
"Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos argumentos." (Karl Popper)
As recentes declarações do presidente Obama reacenderam o debate sobre o confronto entre Palestina e Israel. Todos gostam de emitir opinião sobre o assunto, mesmo sem embasamento. Não pretendo entrar na questão histórica em si, até porque isso foge da minha área de conhecimento. Mas gostaria de colaborar com o debate pela via econômica. Do meu ponto de vista, há muita inveja do relativo sucesso israelense. A tendência natural é defender os mais fracos. Isso nem sempre será o mais justo.
O antissemitismo é tão antigo quanto o próprio judaísmo. Os motivos variaram com o tempo. Mas, em minha opinião, não podemos descartar a inveja como fator importante. A prática da usura era condenada pelos católicos enquanto os judeus desfrutavam de sua evidente lógica econômica. Shakespeare retratou o antissemitismo de seu tempo em seu clássico "O Mercador de Veneza", em que Shylock representa o típico agiota insensível. Marx, sempre irresponsável com suas finanças, usou os judeus como bode expiatório para atacar o capitalismo. O nacional-socialismo de Hitler foi o ponto máximo do ódio contra judeus.
Vários países existem por causa de decisões arbitrárias de governos, principalmente após guerras. Israel é apenas mais um. Curiosamente, parece que somente Israel não tem o direito de existir. Culpa-se sua existência pelo conflito na região, sem levar em conta que os maiores inimigos dos muçulmanos vêm do próprio Islã. O que Israel fez de tão terrível para que mereça ser "varrido do mapa", como os fanáticos defendem?
Israel é um país pequeno, criado apenas em 1948, contando hoje com pouco mais de sete milhões de habitantes. Ao contrário de seus vizinhos, não possui recursos naturais abundantes, e precisa importar petróleo. Entretanto, o telefone celular foi desenvolvido lá, pela filial da Motorola. A maior parte do sistema operacional do Windows XP foi desenvolvida pela Microsoft de Israel. O microprocessador Pentium-4 foi desenvolvido pela Intel em Israel. A tecnologia da "caixa postal" foi desenvolvida em Israel. Microsoft e Cisco construíram unidades de pesquisa e desenvolvimento em Israel. Em resumo, Israel possui uma das indústrias de tecnologia mais avançadas do mundo.
O PIB de Israel, acima de US$ 200 bilhões por ano, é muito superior ao de seus vizinhos islâmicos. A renda per capita é de quase US$ 30 mil. Apesar da pequena população e da ausência de recursos naturais, as empresas israelenses exportam mais de US$ 50 bilhões por ano. A penetração da internet é uma das maiores do mundo. Israel possui a maior proporção mundial de títulos universitários em relação à população. Lá são produzidos mais artigos científicos per capita que qualquer outro país. Israel possui o maior IDH do Oriente, e o 15º do mundo.
Não custa lembrar que tudo isso foi conquistado sob constante ameaça terrorista por parte dos vizinhos, forçando um pesado gasto militar do governo. Ainda assim, o país despontou no campo científico e tecnológico, oferecendo enormes avanços para a humanidade.
Quando comparamos a realidade israelense com a situação miserável da maioria dos vizinhos, fica mais fácil entender parte do ódio que é alimentado contra os judeus. Claro que fatores religiosos pesam, assim como o interesse de autoridades islâmicas no clima de guerra. Nada como um inimigo externo para justificar atrocidades domésticas. Mas as gritantes diferenças econômicas e sociais sem dúvida adicionam lenha à fogueira.
Como agravante, Israel é uma democracia parlamentar, enquanto a maioria dos vizinhos vive sob regimes autoritários que ignoram os direitos humanos mais básicos. Isso para não falar das gritantes diferenças quanto às liberdades femininas.
Israel não é um paraíso. Longe disso. Seu governo comete abusos que merecem repúdio. Mas perto da realidade de seus vizinhos islâmicos, o contraste é chocante. Será que isso tem alguma ligação com o ódio a Israel e o constante uso de critérios parciais na hora de julgar os acontecimentos na região? O sucesso costuma despertar a inveja nas almas pequenas, vide o antiamericanismo patológico que ainda sobrevive na esquerda latino-americana.
Em tempo: O ministro brasileiro da Ciência e Tecnologia deveria aprender com Israel como produzir tecnologia de ponta, com ampla abertura econômica e investimento em educação, em vez de tentar resgatar o fracassado protecionismo, no afã de estimular a indústria nacional.
"Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos argumentos." (Karl Popper)
As recentes declarações do presidente Obama reacenderam o debate sobre o confronto entre Palestina e Israel. Todos gostam de emitir opinião sobre o assunto, mesmo sem embasamento. Não pretendo entrar na questão histórica em si, até porque isso foge da minha área de conhecimento. Mas gostaria de colaborar com o debate pela via econômica. Do meu ponto de vista, há muita inveja do relativo sucesso israelense. A tendência natural é defender os mais fracos. Isso nem sempre será o mais justo.
O antissemitismo é tão antigo quanto o próprio judaísmo. Os motivos variaram com o tempo. Mas, em minha opinião, não podemos descartar a inveja como fator importante. A prática da usura era condenada pelos católicos enquanto os judeus desfrutavam de sua evidente lógica econômica. Shakespeare retratou o antissemitismo de seu tempo em seu clássico "O Mercador de Veneza", em que Shylock representa o típico agiota insensível. Marx, sempre irresponsável com suas finanças, usou os judeus como bode expiatório para atacar o capitalismo. O nacional-socialismo de Hitler foi o ponto máximo do ódio contra judeus.
Vários países existem por causa de decisões arbitrárias de governos, principalmente após guerras. Israel é apenas mais um. Curiosamente, parece que somente Israel não tem o direito de existir. Culpa-se sua existência pelo conflito na região, sem levar em conta que os maiores inimigos dos muçulmanos vêm do próprio Islã. O que Israel fez de tão terrível para que mereça ser "varrido do mapa", como os fanáticos defendem?
Israel é um país pequeno, criado apenas em 1948, contando hoje com pouco mais de sete milhões de habitantes. Ao contrário de seus vizinhos, não possui recursos naturais abundantes, e precisa importar petróleo. Entretanto, o telefone celular foi desenvolvido lá, pela filial da Motorola. A maior parte do sistema operacional do Windows XP foi desenvolvida pela Microsoft de Israel. O microprocessador Pentium-4 foi desenvolvido pela Intel em Israel. A tecnologia da "caixa postal" foi desenvolvida em Israel. Microsoft e Cisco construíram unidades de pesquisa e desenvolvimento em Israel. Em resumo, Israel possui uma das indústrias de tecnologia mais avançadas do mundo.
O PIB de Israel, acima de US$ 200 bilhões por ano, é muito superior ao de seus vizinhos islâmicos. A renda per capita é de quase US$ 30 mil. Apesar da pequena população e da ausência de recursos naturais, as empresas israelenses exportam mais de US$ 50 bilhões por ano. A penetração da internet é uma das maiores do mundo. Israel possui a maior proporção mundial de títulos universitários em relação à população. Lá são produzidos mais artigos científicos per capita que qualquer outro país. Israel possui o maior IDH do Oriente, e o 15º do mundo.
Não custa lembrar que tudo isso foi conquistado sob constante ameaça terrorista por parte dos vizinhos, forçando um pesado gasto militar do governo. Ainda assim, o país despontou no campo científico e tecnológico, oferecendo enormes avanços para a humanidade.
Quando comparamos a realidade israelense com a situação miserável da maioria dos vizinhos, fica mais fácil entender parte do ódio que é alimentado contra os judeus. Claro que fatores religiosos pesam, assim como o interesse de autoridades islâmicas no clima de guerra. Nada como um inimigo externo para justificar atrocidades domésticas. Mas as gritantes diferenças econômicas e sociais sem dúvida adicionam lenha à fogueira.
Como agravante, Israel é uma democracia parlamentar, enquanto a maioria dos vizinhos vive sob regimes autoritários que ignoram os direitos humanos mais básicos. Isso para não falar das gritantes diferenças quanto às liberdades femininas.
Israel não é um paraíso. Longe disso. Seu governo comete abusos que merecem repúdio. Mas perto da realidade de seus vizinhos islâmicos, o contraste é chocante. Será que isso tem alguma ligação com o ódio a Israel e o constante uso de critérios parciais na hora de julgar os acontecimentos na região? O sucesso costuma despertar a inveja nas almas pequenas, vide o antiamericanismo patológico que ainda sobrevive na esquerda latino-americana.
Em tempo: O ministro brasileiro da Ciência e Tecnologia deveria aprender com Israel como produzir tecnologia de ponta, com ampla abertura econômica e investimento em educação, em vez de tentar resgatar o fracassado protecionismo, no afã de estimular a indústria nacional.
Published on May 31, 2011 05:18
May 30, 2011
Triste tango sem fim
Hoje, o caderno especial do jornal Valor Econômico traz matérias sobre a caótica situação argentina. A socialista Kichner está seguindo cada vez mais os passos do tiranete venezuelano Hugo Chávez. Se as políticas irresponsáveis do governo produzem inflação galopante, qual a solução mágica? Congelar os preços e manipular os índices de inflação, claro! Eis que agora até o Big Mac sumiu das prateleiras do McDonald's. Segue uma das reportagens abaixo. Volto depois.
Sem reajuste, Big Mac 'desaparece' das lojas argentinas do McDonald's
Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial e um lugar muito bem escondido na lanchonete. O Big Mac continua sendo vendido como antes e os atendentes fazem a indefectível pergunta: refrigerante e batata frita grandes por alguns pesos a mais? Paradoxalmente, no entanto, o sanduíche mais famoso do planeta não é mais visto em uma única foto nas lojas do McDonald's na Argentina. O que nenhum publicitário entenderia é explicado pela sutil intervenção do governo nas empresas.
Mantido em 16 pesos (cerca de R$ 6,50) apesar da inflação elevada, o preço do Big Mac ficou defasado em relação aos seus concorrentes. Os demais sanduíches da rede têm preços até 80% maiores. O McChicken chega a 21 pesos. Seu equivalente do Burguer King, o Whopper Duplo, custa 23 pesos. Ninguém confirma oficialmente, mas poucos duvidam que essa distorção seja resultado do "morenismo" - os acordos informais patrocinados pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno.
Moreno é responsável pela intervenção no Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), em janeiro de 2007, que divulga desde então um índice de preços ao consumidor desacreditado pelo mercado e pela opinião pública. O Big Mac faz parte da lista de produtos pesquisada todo mês pelo Indec. Embora o peso que tenha no IPC seja mínimo, essa é uma das razões alegadas frequentemente para explicar sua defasagem de preço.
A outra tem a ver com o índice Big Mac, que a revista britânica "The Economist" prepara para comparar a competitividade das moedas. Na última medição, houve um constrangimento para a Casa Rosada. A Argentina liderava o ranking de países em que o sanduíche mais havia subido (19%) além da inflação oficial (10%). Isso foi apontado como evidência inequívoca de maquiagem da alta de preços pelo Indec. Também ajudava a desfazer um dos mitos cultivados pelo governo e eixo do modelo econômico dos governos Cristina e Néstor Kirchner: o de competitividade da taxa de câmbio. Com a elevada inflação em dólares, o índice da "Economist" mostrava que o peso deixava de tornar-se uma moeda muito barata, apesar de nominalmente desvalorizado.
O ex-ministro da Economia Martín Lousteau, que teve uma discussão pública com Moreno e hoje critica a política econômica do governo, explicou a situação em um artigo: "Em 2003, o Big Mac custava 4,1 pesos na Argentina e US$ 2,71 nos EUA. Dessa forma, um americano podia vir com seus US$ 2,71, comprar 7,62 (pelo câmbio da época) e comer 1,85 Big Macs. A Argentina lhe resultava barata. Mas a situação muda quando sobem os preços ou o dólar. Hoje o famoso sanduíche vale 16 pesos aqui e US$ 3,8 lá. Ao aterrissarem em Buenos Aires, esses dólares viram 15,5 pesos. Com esses valores, o visitante dos EUA já não consegue comer um sanduíche inteiro. E isso significa que a Argentina deixou de ser barata".
A versão corrente, alimentada por economistas e defendida ao Valor por dois gerentes de lojas do McDonald's no centro de Buenos Aires, é que a rede tem um acordo informal com Moreno: mantém artificialmente baixo o valor do Big Mac, ajudando a imagem do governo, enquanto tem liberdade para mexer nos demais preços.
Procurada pelo Valor, a empresa negou o esquema. "O McDonald's Argentina opera no país de acordo com a prática de livre mercado, entre as ofertas dos diversos competidores, formando seus preços exclusivamente de acordo com sua estratégia comercial em cada um dos países onde atua", afirmou sua assessoria, por meio de nota.
De acordo com a assessoria, o preço do Big Mac na Argentina é "equivalente ao de outros países da América do Sul, a exemplo do Chile, e um pouco mais do que em países onde está oferecido promocionalmente, como Uruguai e Brasil". A rede disse ainda que está fazendo uma campanha com "produtos premium do cardápio a preços bastante convidativos". Essa estratégia, segundo a rede, tem sido bem-sucedida em "consolidar a liderança" na Argentina e em "facilitar o acesso dos consumidores a uma experiência completa do cardápio e manter forte conexão com seus públicos".
Independentemente das versões, o fato é que não há divulgação do Big Mac, dentro ou fora das lojas. É como se ele simplesmente não existisse, para efeito de propaganda, embora seja comercializado normalmente. "Dos cem países nos quais o McDonald's está presente, só em um o Big Mac tem menos presença promocional do que na Argentina: trata-se da Índia, onde o produto foi substituído pelo Mac Maharaja de frango, já que os hindus não consomem carne bovina", diz Lousteau. Sem Big Mac, ganham destaque outros sanduíches, como o Angus, que a rede afirma ser elaborado com carne nobre e é vendido a 29 pesos. Diante da situação peculiar, surgiu até o Triple Mac, que tem uma fatia de hambúrguer mais. (D.R.)
Comentário: O caso argentino deve servir de lição para o Brasil. Afinal, trata-se de um país que foi rico para padrões mundiais! Há décadas, porém, tem sido literalmente destruído pelo peronismo, o câncer populista que assola a região. A Argentina tinha uma classe média razoável, educação decente, uma das maiores quantidades de livrarias per capita do mundo. Nada disso foi capaz de impedir sua desgraça sob seguidos governos populistas. Quando os brasileiros repetem que nada disso poderia acontecer por aqui, tenho arrepios, lembrando daqueles jovens que enchem a cara e dirigem feito loucos, jurando que acidentes acontecem apenas com "os outros". A sensação de "blindagem" é terrível, pois gera negligência, a arma preferida dos populistas. Acorda, Brasil!
Sem reajuste, Big Mac 'desaparece' das lojas argentinas do McDonald's
Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial e um lugar muito bem escondido na lanchonete. O Big Mac continua sendo vendido como antes e os atendentes fazem a indefectível pergunta: refrigerante e batata frita grandes por alguns pesos a mais? Paradoxalmente, no entanto, o sanduíche mais famoso do planeta não é mais visto em uma única foto nas lojas do McDonald's na Argentina. O que nenhum publicitário entenderia é explicado pela sutil intervenção do governo nas empresas.
Mantido em 16 pesos (cerca de R$ 6,50) apesar da inflação elevada, o preço do Big Mac ficou defasado em relação aos seus concorrentes. Os demais sanduíches da rede têm preços até 80% maiores. O McChicken chega a 21 pesos. Seu equivalente do Burguer King, o Whopper Duplo, custa 23 pesos. Ninguém confirma oficialmente, mas poucos duvidam que essa distorção seja resultado do "morenismo" - os acordos informais patrocinados pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno.
Moreno é responsável pela intervenção no Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), em janeiro de 2007, que divulga desde então um índice de preços ao consumidor desacreditado pelo mercado e pela opinião pública. O Big Mac faz parte da lista de produtos pesquisada todo mês pelo Indec. Embora o peso que tenha no IPC seja mínimo, essa é uma das razões alegadas frequentemente para explicar sua defasagem de preço.
A outra tem a ver com o índice Big Mac, que a revista britânica "The Economist" prepara para comparar a competitividade das moedas. Na última medição, houve um constrangimento para a Casa Rosada. A Argentina liderava o ranking de países em que o sanduíche mais havia subido (19%) além da inflação oficial (10%). Isso foi apontado como evidência inequívoca de maquiagem da alta de preços pelo Indec. Também ajudava a desfazer um dos mitos cultivados pelo governo e eixo do modelo econômico dos governos Cristina e Néstor Kirchner: o de competitividade da taxa de câmbio. Com a elevada inflação em dólares, o índice da "Economist" mostrava que o peso deixava de tornar-se uma moeda muito barata, apesar de nominalmente desvalorizado.
O ex-ministro da Economia Martín Lousteau, que teve uma discussão pública com Moreno e hoje critica a política econômica do governo, explicou a situação em um artigo: "Em 2003, o Big Mac custava 4,1 pesos na Argentina e US$ 2,71 nos EUA. Dessa forma, um americano podia vir com seus US$ 2,71, comprar 7,62 (pelo câmbio da época) e comer 1,85 Big Macs. A Argentina lhe resultava barata. Mas a situação muda quando sobem os preços ou o dólar. Hoje o famoso sanduíche vale 16 pesos aqui e US$ 3,8 lá. Ao aterrissarem em Buenos Aires, esses dólares viram 15,5 pesos. Com esses valores, o visitante dos EUA já não consegue comer um sanduíche inteiro. E isso significa que a Argentina deixou de ser barata".
A versão corrente, alimentada por economistas e defendida ao Valor por dois gerentes de lojas do McDonald's no centro de Buenos Aires, é que a rede tem um acordo informal com Moreno: mantém artificialmente baixo o valor do Big Mac, ajudando a imagem do governo, enquanto tem liberdade para mexer nos demais preços.
Procurada pelo Valor, a empresa negou o esquema. "O McDonald's Argentina opera no país de acordo com a prática de livre mercado, entre as ofertas dos diversos competidores, formando seus preços exclusivamente de acordo com sua estratégia comercial em cada um dos países onde atua", afirmou sua assessoria, por meio de nota.
De acordo com a assessoria, o preço do Big Mac na Argentina é "equivalente ao de outros países da América do Sul, a exemplo do Chile, e um pouco mais do que em países onde está oferecido promocionalmente, como Uruguai e Brasil". A rede disse ainda que está fazendo uma campanha com "produtos premium do cardápio a preços bastante convidativos". Essa estratégia, segundo a rede, tem sido bem-sucedida em "consolidar a liderança" na Argentina e em "facilitar o acesso dos consumidores a uma experiência completa do cardápio e manter forte conexão com seus públicos".
Independentemente das versões, o fato é que não há divulgação do Big Mac, dentro ou fora das lojas. É como se ele simplesmente não existisse, para efeito de propaganda, embora seja comercializado normalmente. "Dos cem países nos quais o McDonald's está presente, só em um o Big Mac tem menos presença promocional do que na Argentina: trata-se da Índia, onde o produto foi substituído pelo Mac Maharaja de frango, já que os hindus não consomem carne bovina", diz Lousteau. Sem Big Mac, ganham destaque outros sanduíches, como o Angus, que a rede afirma ser elaborado com carne nobre e é vendido a 29 pesos. Diante da situação peculiar, surgiu até o Triple Mac, que tem uma fatia de hambúrguer mais. (D.R.)
Comentário: O caso argentino deve servir de lição para o Brasil. Afinal, trata-se de um país que foi rico para padrões mundiais! Há décadas, porém, tem sido literalmente destruído pelo peronismo, o câncer populista que assola a região. A Argentina tinha uma classe média razoável, educação decente, uma das maiores quantidades de livrarias per capita do mundo. Nada disso foi capaz de impedir sua desgraça sob seguidos governos populistas. Quando os brasileiros repetem que nada disso poderia acontecer por aqui, tenho arrepios, lembrando daqueles jovens que enchem a cara e dirigem feito loucos, jurando que acidentes acontecem apenas com "os outros". A sensação de "blindagem" é terrível, pois gera negligência, a arma preferida dos populistas. Acorda, Brasil!
Published on May 30, 2011 08:14
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