Rodrigo Constantino's Blog, page 454
December 23, 2010
Socialismo
Deu no G1: "O Congresso Nacional aprovou nesta quarta-feira (22) o Orçamento de 2011. A receita total da União estimada para o próximo exercício é de R$ 2,073 trilhões. A votação foi concluída às 22h27, perto do prazo limite de meia-noite que o Congresso tinha para votar essa proposta. O texto segue agora para a sanção presidencial."
Comento: Atentai, brasileiros, para o tamanho do Estado em nosso país! O orçamento inclui as estatais, e retrata melhor quanto da economia passa pela mão visível do Leviatã. Nosso PIB está em torno de US$ 2 trilhões, ou algo como R$ 3,4 trilhões por ano. E o governo aprovou um orçamento de... R$ 2 trilhões! É isso mesmo! Quase 60% do PIB brasileiro! E ainda tem gente que chama o Brasil de "neoliberal"...
Comento: Atentai, brasileiros, para o tamanho do Estado em nosso país! O orçamento inclui as estatais, e retrata melhor quanto da economia passa pela mão visível do Leviatã. Nosso PIB está em torno de US$ 2 trilhões, ou algo como R$ 3,4 trilhões por ano. E o governo aprovou um orçamento de... R$ 2 trilhões! É isso mesmo! Quase 60% do PIB brasileiro! E ainda tem gente que chama o Brasil de "neoliberal"...
Published on December 23, 2010 04:15
December 22, 2010
Metáfora

Economia brasileira hoje: um Gurgel turbinado a 120 por hora numa estrada toda esburacada. Apertem os cintos!
Published on December 22, 2010 05:45
December 21, 2010
Meritocracia
Excelente palestra na Graduate School of Business da Stanford University, proferida pelo CEO da InBev, o brasileiro Carlos Brito. Ele fala da importância da meritocracia na empresa, dos sonhos ambiciosos, da cultura corporativa que realmente filtra as melhores pessoas e mantém pressão constante por progresso. (palestra em inglês com 52 min)
Published on December 21, 2010 12:49
December 18, 2010
O corporativismo da OAB
Rodrigo Constantino
Está em pauta novamente a questão do exame obrigatório para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), depois que o desembargador Vladimir Souza Carvalho, do Tribunal Federal Regional em Recife, determinou que todos os bacharéis em Direito tenham seus nomes inscritos nos quadros da OAB mesmo sem prestar o exame de admissão. Por lei, o advogado só pode exercer sua profissão se passar no exame da OAB. O desembargador considerou isto inconstitucional.
O argumento dos representantes da OAB em defesa de sua reserva de mercado são os mesmos de sempre: milhares de alunos se formam todo ano em faculdades de Direito, e é preciso filtrá-los de alguma forma, "proteger" a sociedade dos alunos formados que não estão preparados para atuar como advogados. Mas ocorre que esse argumento é muito fraco.
Em primeiro lugar, se fosse para ter qualquer tipo de filtro regulatório legal, este teria que ser nas próprias universidades. Ora, como pode um aluno passar nas matérias durante cinco anos de faculdade e ainda assim não estar preparado para exercer sua profissão? Algo muito errado teria ocorrido já na faculdade, com seu critério de aprovação. Portanto, aqueles que depositam fé na burocracia, em sua capacidade de separar o joio do trigo com base em critérios isentos e justos (uma fé para lá de ingênua, diga-se de passagem), o MEC deveria ser a escolha, para que as faculdades tivessem que responder pela obrigação de formar somente alunos capacitados. Particularmente, acho temerário depositar tanto poder nos burocratas do MEC, e prefiro a opção dos psicanalistas, de fugir do reconhecimento "oficial" de profissão, para não ter que ficar sob o controle do governo, que invariavelmente leva a mediocridade aonde vai.
O melhor filtro que existe ainda é o próprio mercado. Não é por acaso que um advogado formado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), por exemplo, não tem o mesmo "valor de mercado" que outro formado por qualquer faculdade de fundo de quintal. É o próprio mercado que está selecionando os melhores, sem ajuda alguma de burocratas "clarividentes". No limite, não há porque um auto-didata ser impedido de atuar como advogado também, sob conta e risco do seu cliente. Devo ser livre para escolher qualquer um como meu advogado, desde que seja responsável por isso.
Mas, digamos que ainda assim a OAB represente um bom filtro para descartar os advogados ruins (assumindo que uma prova seja capaz disso). Tudo bem. Não tem problema. A OAB pode continuar existindo e aplicando exames, e somente os aprovados poderão usar a placa "aprovado pela OAB", ou algo do tipo. Desde que não seja uma condição sine qua non para advogar. Em outras palavras: se a aprovação pela OAB realmente tem valor de mercado e é eficaz para selecionar somente os mais aptos, então o próprio mercado vai reconhecer isso, e o exame será feito de forma voluntária. Que advogado não vai querer o carimbo OAB em seu currículo?
Com a proteção legal da reserva de mercado da OAB, fica parecendo que a Ordem não se garante, não confia tanto em sua eficiência naquilo que se propõe, e por isso demanda a proteção legal de seu monopólio. Não sou advogado, e sim economista, mas ocorre algo similar em minha área: tenho que pagar mais de R$ 300 por ano ao Corecon para ser reconhecido como "economista" legalmente, e isso para um bando de socialistas defensores de Hugo Chávez! Reconheço que a OAB não é tão ruim assim, mas nada justifica a obrigatoriedade do exame. Será que membros do alto escalão da OAB são sócios nos cursinhos que acabam virando febre entre aqueles que precisam passar na prova para validar cinco anos de faculdade? A suspeita é legítima.
Por fim, há algo que a OAB claramente não consegue filtrar: a ética dos bacharéis em Direito. O que tem de advogado aprovado pela Ordem atuando como cúmplice dos traficantes e assassinos! Não estou falando aqui do direito de defesa de qualquer um no Estado de Direito, mas da cumplicidade mesmo, de advogados mancomunados com o crime, agindo como pombo-correio dos bandidos. Talvez a OAB devesse dedicar mais tempo para limpar sua casa desta sujeira em vez de lutar para preservar seu monopólio corporativista.
Está em pauta novamente a questão do exame obrigatório para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), depois que o desembargador Vladimir Souza Carvalho, do Tribunal Federal Regional em Recife, determinou que todos os bacharéis em Direito tenham seus nomes inscritos nos quadros da OAB mesmo sem prestar o exame de admissão. Por lei, o advogado só pode exercer sua profissão se passar no exame da OAB. O desembargador considerou isto inconstitucional.
O argumento dos representantes da OAB em defesa de sua reserva de mercado são os mesmos de sempre: milhares de alunos se formam todo ano em faculdades de Direito, e é preciso filtrá-los de alguma forma, "proteger" a sociedade dos alunos formados que não estão preparados para atuar como advogados. Mas ocorre que esse argumento é muito fraco.
Em primeiro lugar, se fosse para ter qualquer tipo de filtro regulatório legal, este teria que ser nas próprias universidades. Ora, como pode um aluno passar nas matérias durante cinco anos de faculdade e ainda assim não estar preparado para exercer sua profissão? Algo muito errado teria ocorrido já na faculdade, com seu critério de aprovação. Portanto, aqueles que depositam fé na burocracia, em sua capacidade de separar o joio do trigo com base em critérios isentos e justos (uma fé para lá de ingênua, diga-se de passagem), o MEC deveria ser a escolha, para que as faculdades tivessem que responder pela obrigação de formar somente alunos capacitados. Particularmente, acho temerário depositar tanto poder nos burocratas do MEC, e prefiro a opção dos psicanalistas, de fugir do reconhecimento "oficial" de profissão, para não ter que ficar sob o controle do governo, que invariavelmente leva a mediocridade aonde vai.
O melhor filtro que existe ainda é o próprio mercado. Não é por acaso que um advogado formado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), por exemplo, não tem o mesmo "valor de mercado" que outro formado por qualquer faculdade de fundo de quintal. É o próprio mercado que está selecionando os melhores, sem ajuda alguma de burocratas "clarividentes". No limite, não há porque um auto-didata ser impedido de atuar como advogado também, sob conta e risco do seu cliente. Devo ser livre para escolher qualquer um como meu advogado, desde que seja responsável por isso.
Mas, digamos que ainda assim a OAB represente um bom filtro para descartar os advogados ruins (assumindo que uma prova seja capaz disso). Tudo bem. Não tem problema. A OAB pode continuar existindo e aplicando exames, e somente os aprovados poderão usar a placa "aprovado pela OAB", ou algo do tipo. Desde que não seja uma condição sine qua non para advogar. Em outras palavras: se a aprovação pela OAB realmente tem valor de mercado e é eficaz para selecionar somente os mais aptos, então o próprio mercado vai reconhecer isso, e o exame será feito de forma voluntária. Que advogado não vai querer o carimbo OAB em seu currículo?
Com a proteção legal da reserva de mercado da OAB, fica parecendo que a Ordem não se garante, não confia tanto em sua eficiência naquilo que se propõe, e por isso demanda a proteção legal de seu monopólio. Não sou advogado, e sim economista, mas ocorre algo similar em minha área: tenho que pagar mais de R$ 300 por ano ao Corecon para ser reconhecido como "economista" legalmente, e isso para um bando de socialistas defensores de Hugo Chávez! Reconheço que a OAB não é tão ruim assim, mas nada justifica a obrigatoriedade do exame. Será que membros do alto escalão da OAB são sócios nos cursinhos que acabam virando febre entre aqueles que precisam passar na prova para validar cinco anos de faculdade? A suspeita é legítima.
Por fim, há algo que a OAB claramente não consegue filtrar: a ética dos bacharéis em Direito. O que tem de advogado aprovado pela Ordem atuando como cúmplice dos traficantes e assassinos! Não estou falando aqui do direito de defesa de qualquer um no Estado de Direito, mas da cumplicidade mesmo, de advogados mancomunados com o crime, agindo como pombo-correio dos bandidos. Talvez a OAB devesse dedicar mais tempo para limpar sua casa desta sujeira em vez de lutar para preservar seu monopólio corporativista.
Published on December 18, 2010 03:50
December 17, 2010
A importância do medo
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
"O medo é uma coisa boa. Se você não tiver medo, pode acabar pulando pela janela." (Keith Richards)
Um estudo de pesquisadores da Universidade de Iowa mostrou como a emoção de medo depende da região do cérebro denominada amígdala. A paciente estudada teve uma rara condição que destruiu essa parte do cérebro. Os pesquisadores então observaram a resposta dela a estímulos assustadores, como casas assombradas, cobras, aranhas, filmes de terror e perguntaram sobre experiências traumáticas no passado. A conclusão foi que a paciente não estava apta a vivenciar o medo. E isso torna sua vida infinitamente mais perigosa.
Coragem, dizia Mark Twain, significa resistência ao medo, controle do medo, e não ausência de medo. O medo pode ser uma emoção crucial para nossa sobrevivência, pois nos mantêm mais alertas e desconfiados. Claro que se ele ultrapassar certo limite será prejudicial. O medo que paralisa não faz bem algum ao indivíduo. O interessante é encontrar um equilíbrio em que o medo existe e funciona como constante alerta, ao mesmo tempo em que pode ser dominado pela coragem. O mérito está justamente nisso, até porque enfrentar enormes perigos sem consciência deles, sem medo, não é um ato corajoso, e sim inconseqüente.
E o que isso tem a ver com liberalismo? Tudo! Afinal, o liberal é justamente aquele sujeito que desconfia sempre do poder, do governo, e mais ainda, ele costuma ter muito medo da concentração de poder no Estado. "O preço da liberdade é a eterna vigilância", reza o credo liberal. Ceticismo e desconfiança geram uma postura mais alerta, impedindo abusos de poder por parte dos governantes. Por outro lado, os românticos ingênuos costumam demandar mais e mais governo, pois deixam a esperança falar mais alto que o medo. Mas, como dizia Baltazar Gracián, "a esperança é a grande falsária da verdade". Os esperançosos em demasia são utópicos e, por isso, vítimas fáceis dos oportunistas de plantão.
Tenhamos medo do Leviatã estatal sim, pois, em primeiro lugar, ele é legítimo, devido à enorme capacidade de estrago dos governos; e, em segundo lugar, ele pode contribuir para uma maior vigilância aos governantes no poder.
"O medo é uma coisa boa. Se você não tiver medo, pode acabar pulando pela janela." (Keith Richards)
Um estudo de pesquisadores da Universidade de Iowa mostrou como a emoção de medo depende da região do cérebro denominada amígdala. A paciente estudada teve uma rara condição que destruiu essa parte do cérebro. Os pesquisadores então observaram a resposta dela a estímulos assustadores, como casas assombradas, cobras, aranhas, filmes de terror e perguntaram sobre experiências traumáticas no passado. A conclusão foi que a paciente não estava apta a vivenciar o medo. E isso torna sua vida infinitamente mais perigosa.
Coragem, dizia Mark Twain, significa resistência ao medo, controle do medo, e não ausência de medo. O medo pode ser uma emoção crucial para nossa sobrevivência, pois nos mantêm mais alertas e desconfiados. Claro que se ele ultrapassar certo limite será prejudicial. O medo que paralisa não faz bem algum ao indivíduo. O interessante é encontrar um equilíbrio em que o medo existe e funciona como constante alerta, ao mesmo tempo em que pode ser dominado pela coragem. O mérito está justamente nisso, até porque enfrentar enormes perigos sem consciência deles, sem medo, não é um ato corajoso, e sim inconseqüente.
E o que isso tem a ver com liberalismo? Tudo! Afinal, o liberal é justamente aquele sujeito que desconfia sempre do poder, do governo, e mais ainda, ele costuma ter muito medo da concentração de poder no Estado. "O preço da liberdade é a eterna vigilância", reza o credo liberal. Ceticismo e desconfiança geram uma postura mais alerta, impedindo abusos de poder por parte dos governantes. Por outro lado, os românticos ingênuos costumam demandar mais e mais governo, pois deixam a esperança falar mais alto que o medo. Mas, como dizia Baltazar Gracián, "a esperança é a grande falsária da verdade". Os esperançosos em demasia são utópicos e, por isso, vítimas fáceis dos oportunistas de plantão.
Tenhamos medo do Leviatã estatal sim, pois, em primeiro lugar, ele é legítimo, devido à enorme capacidade de estrago dos governos; e, em segundo lugar, ele pode contribuir para uma maior vigilância aos governantes no poder.
Published on December 17, 2010 05:58
December 14, 2010
Crianças Mimadas
Rodrigo Constantino, O Globo
Em "A rebelião das massas", o filósofo Ortega y Gasset descreveu o homem-massa como alguém que "só tem apetites, pensa que só tem direitos e não acha que tem obrigações". O perfil psicológico que ele faz deste típico homem moderno é o de alguém com livre expansão de desejos e a radical ingratidão para com tudo que tornou possível a facilidade de sua existência. Em suma, a psicologia da criança mimada.
Qualquer um que assume a segurança econômica como um "direito", age exatamente como uma criança mimada. Ignora como a natureza é hostil, e que todo o avanço material da modernidade era inexistente no passado. Um operário hoje tem mais conforto que muito nobre medieval. Basta pensar nas dificuldades de sobrevivência de Robinson Crusoé sozinho numa ilha – ou dos cubanos na ilha-presídio caribenha –, para se ter idéia do valor do progresso capitalista.
Sem a compreensão adequada desta realidade, muitos encaram o Estado como uma espécie de Deus, e exigem os bens modernos como "direitos naturais". A mentalidade econômica predominante assume que a riqueza não precisa ser criada, devendo apenas ser dividida. Basta o governo tirar de José e dar para João, e todos terão uma qualidade de vida confortável. Esta postura leva à hipertrofia da social-democracia ou, no limite, ao socialismo.
A contrapartida da liberdade é sempre a responsabilidade. Os jovens vão conquistando mais liberdade à medida que passam a assumir as rédeas de suas vidas. Já as crianças mimadas nunca aceitam crescer, e preferem viver sempre à custa do pai, eximindo-se das escolhas essenciais. Para muitos, o Estado se tornou esta figura paterna que vai cuidar de tudo. Tal como as crianças que não são realmente livres, pois a liberdade concedida pode sempre ser retirada, os cidadãos sob o paternalismo estatal se tornam dependentes do governo para tudo.
Liberdade não é o mesmo que poder. Um cego não deixa de ser livre por não poder enxergar, assim como ninguém é escravo por não poder voar. A natureza nos impõe limites. Quando falamos em liberdade, estamos pensando basicamente na ausência de obstáculos criados pelos próprios homens, ou seja, da coerção humana. Este conceito de liberdade não tem ligação alguma com aquele comumente usado pelas crianças mimadas. Para estas, liberdade é ter todos os seus desejos satisfeitos por terceiros, ter um escravo onipotente, um gênio da garrafa pronto para realizar sonhos num estalar de dedos.
O homem moderno deseja ficar "livre" de todo sofrimento, da angústia, da falta, do risco. Ele vive no vale das quimeras, onde basta demandar algo, que o Estado atende. Todos devem ter "direito" à moradia decente, emprego com bons salários, fartas aposentadorias, remédios grátis, em resumo, a uma "vida digna" mesmo que sem esforços. Ninguém liga para como tais anseios serão atendidos. A resposta é automática: o Estado! Bastiat resumiu bem a questão: "O Estado é a grande ficção através da qual todo mundo se esforça para viver à custa de todo mundo".
Onde há demanda, haverá oferta. Com tantas pessoas agindo feito uma criança mimada, parece natural que os candidatos a "paizão" ou "supermãe" logo apareçam. São aqueles que Thomas Sowell chamou de "ungidos", pessoas que se consideram clarividentes, detentoras de uma incrível benevolência, e de um conhecimento quase onisciente. Eles sabem o que é melhor para cada um, e sua meta é proteger o indivíduo de si próprio, cuidar do povo como um pai cuida de seu filho.
A simbiose entre crianças mimadas e governantes paternalistas produz um círculo vicioso, alimentando o infantilismo na sociedade e concentrando mais poder no Estado. O fascismo de Mussolini representa o ápice deste modelo. Tudo no Estado, nada fora do Estado. O cidadão é tratado como um mentecapto, incapaz de tomar decisões acerca de seu destino. Cabe ao Estado escolher por todos: que leitura é adequada para nossos filhos; quais remédios nós podemos comprar; quanto de endividamento cada família pode ter; e até qual tipo de tomada devemos usar em casa!
Enquanto esta simbiose não for quebrada, jamais haverá liberdade individual de fato. Responsabilidade quer dizer "habilidade de resposta", e esta deve ser do indivíduo. Nunca teremos satisfação plena de nossos desejos, pois somos seres imperfeitos. Mas temos que assumir nossa responsabilidade, sabendo que as coisas não caem do céu – ou do governo. Reconhecer isso é o primeiro passo para o amadurecimento. A alternativa é ser uma criança mimada para sempre, dependente do "papai" governo para tudo.
Em "A rebelião das massas", o filósofo Ortega y Gasset descreveu o homem-massa como alguém que "só tem apetites, pensa que só tem direitos e não acha que tem obrigações". O perfil psicológico que ele faz deste típico homem moderno é o de alguém com livre expansão de desejos e a radical ingratidão para com tudo que tornou possível a facilidade de sua existência. Em suma, a psicologia da criança mimada.
Qualquer um que assume a segurança econômica como um "direito", age exatamente como uma criança mimada. Ignora como a natureza é hostil, e que todo o avanço material da modernidade era inexistente no passado. Um operário hoje tem mais conforto que muito nobre medieval. Basta pensar nas dificuldades de sobrevivência de Robinson Crusoé sozinho numa ilha – ou dos cubanos na ilha-presídio caribenha –, para se ter idéia do valor do progresso capitalista.
Sem a compreensão adequada desta realidade, muitos encaram o Estado como uma espécie de Deus, e exigem os bens modernos como "direitos naturais". A mentalidade econômica predominante assume que a riqueza não precisa ser criada, devendo apenas ser dividida. Basta o governo tirar de José e dar para João, e todos terão uma qualidade de vida confortável. Esta postura leva à hipertrofia da social-democracia ou, no limite, ao socialismo.
A contrapartida da liberdade é sempre a responsabilidade. Os jovens vão conquistando mais liberdade à medida que passam a assumir as rédeas de suas vidas. Já as crianças mimadas nunca aceitam crescer, e preferem viver sempre à custa do pai, eximindo-se das escolhas essenciais. Para muitos, o Estado se tornou esta figura paterna que vai cuidar de tudo. Tal como as crianças que não são realmente livres, pois a liberdade concedida pode sempre ser retirada, os cidadãos sob o paternalismo estatal se tornam dependentes do governo para tudo.
Liberdade não é o mesmo que poder. Um cego não deixa de ser livre por não poder enxergar, assim como ninguém é escravo por não poder voar. A natureza nos impõe limites. Quando falamos em liberdade, estamos pensando basicamente na ausência de obstáculos criados pelos próprios homens, ou seja, da coerção humana. Este conceito de liberdade não tem ligação alguma com aquele comumente usado pelas crianças mimadas. Para estas, liberdade é ter todos os seus desejos satisfeitos por terceiros, ter um escravo onipotente, um gênio da garrafa pronto para realizar sonhos num estalar de dedos.
O homem moderno deseja ficar "livre" de todo sofrimento, da angústia, da falta, do risco. Ele vive no vale das quimeras, onde basta demandar algo, que o Estado atende. Todos devem ter "direito" à moradia decente, emprego com bons salários, fartas aposentadorias, remédios grátis, em resumo, a uma "vida digna" mesmo que sem esforços. Ninguém liga para como tais anseios serão atendidos. A resposta é automática: o Estado! Bastiat resumiu bem a questão: "O Estado é a grande ficção através da qual todo mundo se esforça para viver à custa de todo mundo".
Onde há demanda, haverá oferta. Com tantas pessoas agindo feito uma criança mimada, parece natural que os candidatos a "paizão" ou "supermãe" logo apareçam. São aqueles que Thomas Sowell chamou de "ungidos", pessoas que se consideram clarividentes, detentoras de uma incrível benevolência, e de um conhecimento quase onisciente. Eles sabem o que é melhor para cada um, e sua meta é proteger o indivíduo de si próprio, cuidar do povo como um pai cuida de seu filho.
A simbiose entre crianças mimadas e governantes paternalistas produz um círculo vicioso, alimentando o infantilismo na sociedade e concentrando mais poder no Estado. O fascismo de Mussolini representa o ápice deste modelo. Tudo no Estado, nada fora do Estado. O cidadão é tratado como um mentecapto, incapaz de tomar decisões acerca de seu destino. Cabe ao Estado escolher por todos: que leitura é adequada para nossos filhos; quais remédios nós podemos comprar; quanto de endividamento cada família pode ter; e até qual tipo de tomada devemos usar em casa!
Enquanto esta simbiose não for quebrada, jamais haverá liberdade individual de fato. Responsabilidade quer dizer "habilidade de resposta", e esta deve ser do indivíduo. Nunca teremos satisfação plena de nossos desejos, pois somos seres imperfeitos. Mas temos que assumir nossa responsabilidade, sabendo que as coisas não caem do céu – ou do governo. Reconhecer isso é o primeiro passo para o amadurecimento. A alternativa é ser uma criança mimada para sempre, dependente do "papai" governo para tudo.
Published on December 14, 2010 03:06
December 13, 2010
Os Chacais no Poder

Rodrigo Constantino
"A característica do momento é que a alma vulgar, sabendo que é vulgar, tem a coragem de afirmar o direito da vulgaridade e o impõe em toda parte." (Ortega y Gasset)
Não sou um saudosista e jamais idealizei o passado. Longe disso! Acredito que todo saudosista costuma se imaginar como parte da aristocracia no passado, nunca como um dos plebeus, cuja vida era dureza. Dito isso, parece-me inegável que algo se perdeu nesta transição para os regimes populares modernos. As conquistas, em minha opinião, compensam as perdas com ampla margem. Mas estas existem. Principalmente se levarmos em conta as promessas anteriores às mudanças. E ao ler o excelente livro "O Gattopardo", de Tomasi Di Lampedusa, esta é a sensação que fica.
O livro, único romance escrito pelo italiano, ele mesmo de família nobre, retrata com ares autobiográficos a decadência da nobreza siciliana, durante a revolução liderada por Garibaldi no século XIX. O Príncipe Fabrizio Salina, personagem principal, encarna o pessimismo de quem "contemplava o ruir da sua casta e do seu patrimônio sem nada fazer e sem nenhum desejo de remediar o desastre". Ele era apenas um observador dos acontecimentos que pareciam inevitáveis em seu tempo.
A passagem mais famosa do livro é também uma de suas mais importantes lições. O sobrinho querido de Don Fabrizio, Tancredi, ao decidir se alistar nos exércitos garibaldinos, explica ao tio sua lógica: "Se nós não estivermos presentes, eles aprontam a república. Se queremos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude". No primeiro momento, estas palavras ficariam registradas na memória de Don Fabrizio, mas somente com o tempo ele teria uma compreensão mais clara de seu completo significado. A promessa de "tempos gloriosos" para a Sicília já durava algum tempo, e muitos tiros tinham sido disparados por tal objetivo. Mas nenhuma mudança estrutural ocorreria de fato.
As palavras enigmáticas de Tancredi adquiriam maior clareza: "Muita coisa ia acontecer, mas seria tudo uma comédia, uma comédia ruidosa e romântica com algumas manchas de sangue no traje burlesco". O resultado da "revolução" seria apenas uma "lenta substituição de classes". E as novas classes que subiriam ao poder não seriam melhores que as antigas; pelo contrário: "Nós fomos os Gattopardos e os Leões; os que vão nos substituir serão pequenos chacais, hienas; e todos, Gattopardos, chacais e ovelhas continuaremos a crer que somos o sal da terra".
A sensação de asco que o nouveau riche Calogero Sedàra despertava em Don Fabrizio era total, sinal dos tempos modernos. A insensibilidade à graça de objetos ilustres no palácio era indiretamente proporcional à atenção ao valor monetário dos bens. Don Fabrizio, de repente, sentiu que o odiava; "era ao afirmar-se dele, de cem outros semelhantes a ele, às suas obscuras maquinações, à sua persistente avidez e mesquinharia que se devia a sensação de morte que agora pesava sobre esses palácios". Os novos donos do poder e do dinheiro eram brutos se comparados aos nobres de antes.
Na resenha que Mário Vargas Llosa fez do livro de Lampedusa, merece destaque o contraste do autor frente ao modismo de sua época, na década de 1950, quando a literatura estava impregnada de ideologia e todos deveriam seguir a posição moral e politicamente correta a favor do progresso da humanidade. As utopias estavam no auge da fama, e muitos sonhavam com as revoluções socialistas que trariam o paraíso à Terra. O livro, com mensagem mais pessimista – ou realista, diriam alguns –, faria um alerta contra o romantismo destes que pensam ser possível atingir alguma perfeição quando se trata de modelo social.
Vargas Llosa resume: "Em vez de um lustroso gattopardo, o símbolo do poder será uma flâmula tricolor. Mas, sob essas mudanças de nomes e de rituais, a sociedade se reconstituirá, idêntica a si mesma, em sua imemorial divisão entre ricos e pobres, fortes e fracos, senhores e servos. Variarão as maneiras e as modas, porém para pior: os novos chefes e donos são vulgares e incultos, sem os refinamentos dos antigos". E não acabaram quase sempre assim todas as revoluções redentoras, que iriam colocar um fim nas divisões de classes?
Para Étienne La Boétie, em seu "Discurso Sobre a Servidão Voluntária", os vários atentados realizados contra imperadores romanos "não passaram de conspirações de pessoas ambiciosas, cujos inconvenientes não se deve lamentar, pois se perceber que desejavam, não eliminar, mas remover a coroa, pretendendo banir o tirano e reter a tirania". A própria Revolução Francesa eliminou a nobreza para colocar em seu lugar o Terror de Robespierre.
A última passagem de "A Revolução dos Bichos", de Goerge Orwell, desfere similar golpe aos utópicos: "As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco". O destino daqueles que acreditam nas promessas de barbudos "salvadores da pátria" será invariavelmente o mesmo: trocar seis por meia-dúzia na melhor das hipóteses; ou por algo muito pior na mais provável delas. Sai uma arrogante aristocracia, e entra um metalúrgico ignorante com mais sede ainda pelo poder, mais corrupto ainda que seus antecessores. São os chacais alçados ao poder pelos idiotas que, de repente, descobriram que são em maior número.
Como o regresso ao feudalismo não é desejável de forma alguma, só resta aos liberais seguir na luta por reformas constantes, na batalha realista por uma gradual evolução da sociedade, rejeitando as soluções revolucionárias mágicas e tentando limitar o estrago causado pelos chacais famintos.
Published on December 13, 2010 06:20
December 10, 2010
O limite medíocre do crescimento
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Os dados divulgados pelo IBGE mostram que o crescimento do PIB brasileiro deve fechar o ano acima de 7,5%. Mas é preciso ter calma na comemoração. O crescimento de 2009 foi revisado para baixo: uma queda de 0,6% ao invés de 0,2%, mostrando que a "marolinha" que o presidente Lula previu foi, na verdade, uma onda forte com estrago considerável. A base mais reduzida de 2009 faz com que o aumento registrado este ano seja maior. Na era Lula, o crescimento ficou perto de 4% ao ano, bem abaixo da média dos BRIC e mesmo dos países latino-americanos. Este patamar parece ser o potencial do país, dada as atuais circunstâncias internas e externas.
Muitos falam de um crescimento de 5% para 2011, mas o fato é que a economia está operando claramente no seu limite. Os gargalos de sempre continuam impedindo um vôo mais alto e sustentado. A inflação já começa a incomodar bastante, acima de 5%. Falta mão-de-obra em vários setores, especialmente a mais qualificada. A infra-estrutura é precária e inviabiliza um crescimento mais acelerado. A lei trabalhista impõe um obstáculo enorme aos empresários. A carga tributária é absurdamente alta e extremamente complexa. A burocracia é asfixiante. Os gastos públicos são muito elevados.
Tudo isso somado, e muito mais, faz com que o investimento produtivo fique em patamares reduzidos, abaixo de 20% do PIB, enquanto deveria ser de pelo menos 25%. O Banco Central terá que subir bem a taxa de juros ano que vem, prejudicando a trajetória de investimento. Não há milagre quando se trata de economia. Ou o governo faz o dever de casa, aprova reformas estruturais, coloca a casa em ordem, corta gastos de verdade; ou veremos mais um vôo de galinha, e o crescimento ficará na faixa dos 4% mesmo, o limite medíocre da era Lula, mesmo com um cenário externo bastante favorável.
Os dados divulgados pelo IBGE mostram que o crescimento do PIB brasileiro deve fechar o ano acima de 7,5%. Mas é preciso ter calma na comemoração. O crescimento de 2009 foi revisado para baixo: uma queda de 0,6% ao invés de 0,2%, mostrando que a "marolinha" que o presidente Lula previu foi, na verdade, uma onda forte com estrago considerável. A base mais reduzida de 2009 faz com que o aumento registrado este ano seja maior. Na era Lula, o crescimento ficou perto de 4% ao ano, bem abaixo da média dos BRIC e mesmo dos países latino-americanos. Este patamar parece ser o potencial do país, dada as atuais circunstâncias internas e externas.
Muitos falam de um crescimento de 5% para 2011, mas o fato é que a economia está operando claramente no seu limite. Os gargalos de sempre continuam impedindo um vôo mais alto e sustentado. A inflação já começa a incomodar bastante, acima de 5%. Falta mão-de-obra em vários setores, especialmente a mais qualificada. A infra-estrutura é precária e inviabiliza um crescimento mais acelerado. A lei trabalhista impõe um obstáculo enorme aos empresários. A carga tributária é absurdamente alta e extremamente complexa. A burocracia é asfixiante. Os gastos públicos são muito elevados.
Tudo isso somado, e muito mais, faz com que o investimento produtivo fique em patamares reduzidos, abaixo de 20% do PIB, enquanto deveria ser de pelo menos 25%. O Banco Central terá que subir bem a taxa de juros ano que vem, prejudicando a trajetória de investimento. Não há milagre quando se trata de economia. Ou o governo faz o dever de casa, aprova reformas estruturais, coloca a casa em ordem, corta gastos de verdade; ou veremos mais um vôo de galinha, e o crescimento ficará na faixa dos 4% mesmo, o limite medíocre da era Lula, mesmo com um cenário externo bastante favorável.
Published on December 10, 2010 06:08
December 9, 2010
Discurso de Mário Vargas Llosa para o Prêmio Nobel
Seguem trechos do discurso de Mário Vargas Llosa para o Prêmio Nobel. Finalmente, além de um excelente escritor, uma pessoa digna levou este prêmio! Lá vai:
Aprendi a ler aos cinco anos, na classe do irmão Justiniano, no Colégio de la Salle, em Cochabamba, na Bolívia. Foi a coisa mais importante da minha vida. Quase 70 anos depois, lembro-me com nitidez como essa magia - transformar as palavras dos livros em imagens - enriqueceu a minha vida, quebrando as barreiras do tempo e do espaço e permitindo-me viajar com o capitão Nemo 20 mil léguas abaixo do nível do mar, lutar junto com d'Artagnan, Athos, Portos e Aramís contra as intrigas que ameaçavam a rainha nos tempos do sinuoso Richelieu, ou arrastar-me pelas entranhas de Paris com o corpo inerte de Marius às costas.
A leitura convertia o sonho em vida e a vida em sonho e punha ao alcance do pedacinho de homem que eu era o universo da literatura. Minha mãe me disse que as primeiras coisas que escrevi foram continuações das histórias que lia, pois me aborrecia quando elas terminavam ou queria mudar seu final. E talvez seja isso que acabei fazendo na vida sem perceber: prolongar no tempo, enquanto crescia, amadurecia e envelhecia, as histórias que encheram minha infância de exaltação e de aventuras.
Gostaria que a minha mãe estivesse aqui, ela que costumava se emocionar e chorar ao ler os poemas de Amado Nervo e Pablo Neruda, e também meu avô Pedro, de nariz grande e calva reluzente, que elogiava os meus versos, e o tio Lucho que tanto me animou a dedicar-me de corpo e alma a escrever, embora a literatura, naquele tempo e naquele local, alimentasse tão mal os seus cultores. Toda a vida tive ao meu lado gente assim, que gostava de mim e me animava, e me contagiava com a sua fé quando eu duvidava. Graças a eles e, sem dúvida, também à minha insistência e um pouco de sorte, pude dedicar boa parte do meu tempo a essa paixão, vício e maravilha que é escrever, criar uma vida paralela onde nos refugiamos contra a adversidade, que torna natural o extraordinário e o extraordinário natural, que dissipa o caos, embeleza o feio, eterniza o instante e torna a morte um espetáculo passageiro.
Não era fácil escrever histórias. Ao se transformarem em palavras, os projetos passeavam pelo papel e as ideias e imagens morriam. Como reanimá-los ? Por sorte, ali estavam os mestres para que eu aprendesse com eles e seguisse seu exemplo. Flaubert me ensinou que o talento é uma disciplina tenaz e uma longa paciência. Faulkner, que é a forma - o texto e a estrutura - que engrandece ou empobrece os temas. Martorell, Cervantes, Dickens, Balzac, Tolstoi, Conrad, Thomas Mann, que o número e a ambição são tão importantes numa novela quanto a destreza estilística e a estratégia narrativa. Sartre, que as palavras são atos e que uma novela, uma peça de teatro, um ensaio, comprometidos com a atualidade e as melhores opções, podem mudar o curso da História. Camus e Orwell, que uma literatura desprovida de moral é desumana, e Malraux que o heroísmo e o épico cabiam na atualidade tanto quanto no tempo dos argonautas, da Odisséia e da Ilíada.
Se eu mencionasse neste discurso todos os escritores aos quais devo um pouco ou muito as suas sombras nos deixariam na escuridão. São inumeráveis. Além de me revelarem os segredos do ofício de contar, eles me fizeram explorar os abismos do humano, admirar seus feitos e horrorizar-me com os seus desvarios. Foram os amigos mais serviçais, os estimuladores da minha vocação, em cujos livros descobri que, mesmo nas piores circunstâncias, há esperança, e que vale a pena viver, nem que seja só porque sem a vida não poderíamos ler nem fantasiar histórias.
Algumas vezes me perguntei se em países como o meu, com poucos leitores e tantos pobres, analfabetos e injustiças, onde a cultura era privilégio de tão poucos, escrever não era um luxo escapista. Mas essas dúvidas nunca asfixiaram minha vocação, e continuei sempre escrevendo, mesmo naqueles períodos em que o trabalho de subsistência absorvia quase todo o meu tempo. Acho que fiz a coisa certa, pois, se para a literatura florescer numa sociedade fosse preciso lançar primeiro a alta cultura, a liberdade, a prosperidade e a justiça, isso não teria existido nunca. Ao contrário, graças à literatura, às consciências que ela formou, aos desejos e anseios que inspirou, ao desencanto do real com que retornamos da viagem a uma bela fantasia, a civilização é agora menos cruel do que quando os contadores de contos começaram a humanizar a vida com suas fábulas. Seríamos piores do que somos sem os bons livros que lemos, mais conformistas, menos inquietos e insubmissos, e o espírito crítico, o motor do progresso, nem sequer existiria. A exemplo de escrever, ler é protestar contra as insuficiências da vida. Quem procura na ficção o que não tem, diz, sem necessidade de dizer, e nem de saber, que a vida tal como é não nos basta para apagar a nossa sede de absoluto, fundamento da condição humana, e que deveria ser melhor. Inventamos as ficções para podermos viver de, alguma maneira, as muitas vidas que queríamos ter, quando apenas dispomos de uma só.
Sem as ficções seríamos menos conscientes da importância da liberdade para que a vida seja suportável e do inferno em que ela se converte quando dominada por um tirano, uma ideologia ou uma religião. Quem duvida que a literatura, além de nos levar ao sonho da beleza e da felicidade, nos alerta contra toda forma de opressão, pergunte por que todos os regimes empenhados em controlar a conduta dos cidadãos, do berço ao túmulo, a temem tanto a ponto de estabelecerem regras de censura para reprimi-la, e vigiam com tanta suspeita os escritores independentes. Fazem isso porque sabem o risco que correm ao deixarem que a imaginação flua pelos livros, como quão sediciosas se tornam as ficções quando o leitor compara a liberdade que as torna possíveis e que nelas se exerce, com o obscurantismo e o medo que o pressionam no mundo real. Queiram ou não, saibam disso ou não, os criadores de fábulas, ao inventar histórias, propagam a insatisfação, mostrando que o mundo é mal feito, que a vida da fantasia é mais rica que a rotina cotidiana. Essa constatação cria raízes na sensibilidade e na consciência, torna os cidadãos mais difíceis de manipular, de aceitar as mentiras que querem fazer com que aceite, de que entre cassetetes, inquisidores e carcereiros vivem mais seguros e melhor. A boa literatura cria pontes entre pessoas diferentes, fazendo-nos gozar, sofrer ou nos surpreendermos, nos une sobre as barreiras das línguas, crenças, usos, costumes e preconceitos que nos separam. Quando a grande baleia branca sepulta o capitão Ahab no mar, o coração dos leitores se oprime do mesmo modo em Tóquio, Lima ou Tombuctu. Quando Emma Bovary toma arsênico, Anna Karênina se joga do trem e Julien Sorel sobe ao patíbulo; e quando, em El Sur, o urbano doutor Juan Dahlmann sai daquela vendinha do pampa para enfrentar o punhal de um matador; ou percebemos que todos os moradores de Comala, o povoado de Pedro Páramo, estão mortos, o abalo é semelhante no leitor que adora Buda, Confúcio, Cristo, Alá ou é agnóstico, vista terno e gravata, túnica, quimono ou bombachas. A literatura cria uma fraternidade dentro da diversidade humana e apaga as fronteiras que erguem entre os homens e mulheres a ignorância, as ideologias, as religiões, os idiomas e a estupidez.
Como todas as épocas tiveram os seus espantos, a nossa é a dos fanáticos, dos terroristas suicidas, antiga espécie convencida de que matando se chega ao paraíso, de que o sangue dos inocentes lava as afrontas coletivas, corrige as injustiças e impõe a verdade sobre as falsas crenças. Inumeráveis vítimas são imoladas todos os dias em diversos locais do mundo por aqueles que se sentem donos de verdades absolutas. Acreditávamos que com a queda dos impérios totalitários a convivência, a paz, o pluralismo, os direitos humanos se imporiam e o mundo deixaria para trás os holocaustos, genocídios, invasões e guerras de extermínio. Nada disso ocorreu. Novas formas de barbárie proliferam estimuladas pelo fanatismo, e com a multiplicação das armas de destruição em massa não se pode excluir que algum grupelho de redentores enlouquecidos provoque um dia um cataclismo nuclear. É preciso ir atrás deles, enfrentá-los e derrotá-los. Não são muitos, embora o estrondo dos seus crimes ecoe por todo o planeta e nos encham de horror os pesadelos que provocam. Não devemos nos intimidar ante os que querem tirar a liberdade que conquistamos na longa façanha da civilização. Defendamos a democracia liberal que, com todas as suas limitações, ainda significa o pluralismo político, a convivência, a tolerância, os direitos humanos, o respeito à crítica, a legalidade, as eleições livres, a alternância de poder, tudo aquilo que nos tirou da vida selvagem e nos faz aproximar - embora nunca cheguemos a alcançá-la - da formosa e perfeita vida fingida pela literatura, aquela que só inventando, escrevendo e lendo podemos merecer. Ao enfrentarmos os fanáticos homicidas defendemos o nosso direito de sonhar e de tornar nossos sonhos realidade.
Quando jovem, como muitos escritores da minha geração, fui marxista e acreditava que o socialismo seria o remédio para a exploração e as injustiças sociais que dominavam o meu país, a América Latina e o resto do Terceiro Mundo. Minha decepção com o estatismo e o coletivismo e a minha passagem para o democrata e liberal que sou - que tento ser - foi longa, difícil e ocorreu aos poucos por causa de episódios como a conversão da Revolução Cubana, que me entusiasmou de início, ao modelo autoritário e vertical da União Soviética, dos testemunhos dos dissidentes que conseguiam vazar dos muros do gulag, da invasão da Tchecoslováquia pelos países do Pacto de Varsóvia e graças a pensadores como Raymond Aron, Jean-François Revel, Isaiah Berlin e Karl Popper, aos quais devo a minha revalorização da cultura democrática e das sociedades abertas. Esses mestres foram um exemplo de lucidez e galhardia quando a intelligentsia ocidental parecia, por frivolidade ou oportunismo, ter sucumbido ao feitiço do socialismo soviético, ou pior ainda, à diabólica e sanguinária revolução cultural chinesa.
[...]
Tradução: Damian Kraus e Antonio Alberto Dias Castro.
Aprendi a ler aos cinco anos, na classe do irmão Justiniano, no Colégio de la Salle, em Cochabamba, na Bolívia. Foi a coisa mais importante da minha vida. Quase 70 anos depois, lembro-me com nitidez como essa magia - transformar as palavras dos livros em imagens - enriqueceu a minha vida, quebrando as barreiras do tempo e do espaço e permitindo-me viajar com o capitão Nemo 20 mil léguas abaixo do nível do mar, lutar junto com d'Artagnan, Athos, Portos e Aramís contra as intrigas que ameaçavam a rainha nos tempos do sinuoso Richelieu, ou arrastar-me pelas entranhas de Paris com o corpo inerte de Marius às costas.
A leitura convertia o sonho em vida e a vida em sonho e punha ao alcance do pedacinho de homem que eu era o universo da literatura. Minha mãe me disse que as primeiras coisas que escrevi foram continuações das histórias que lia, pois me aborrecia quando elas terminavam ou queria mudar seu final. E talvez seja isso que acabei fazendo na vida sem perceber: prolongar no tempo, enquanto crescia, amadurecia e envelhecia, as histórias que encheram minha infância de exaltação e de aventuras.
Gostaria que a minha mãe estivesse aqui, ela que costumava se emocionar e chorar ao ler os poemas de Amado Nervo e Pablo Neruda, e também meu avô Pedro, de nariz grande e calva reluzente, que elogiava os meus versos, e o tio Lucho que tanto me animou a dedicar-me de corpo e alma a escrever, embora a literatura, naquele tempo e naquele local, alimentasse tão mal os seus cultores. Toda a vida tive ao meu lado gente assim, que gostava de mim e me animava, e me contagiava com a sua fé quando eu duvidava. Graças a eles e, sem dúvida, também à minha insistência e um pouco de sorte, pude dedicar boa parte do meu tempo a essa paixão, vício e maravilha que é escrever, criar uma vida paralela onde nos refugiamos contra a adversidade, que torna natural o extraordinário e o extraordinário natural, que dissipa o caos, embeleza o feio, eterniza o instante e torna a morte um espetáculo passageiro.
Não era fácil escrever histórias. Ao se transformarem em palavras, os projetos passeavam pelo papel e as ideias e imagens morriam. Como reanimá-los ? Por sorte, ali estavam os mestres para que eu aprendesse com eles e seguisse seu exemplo. Flaubert me ensinou que o talento é uma disciplina tenaz e uma longa paciência. Faulkner, que é a forma - o texto e a estrutura - que engrandece ou empobrece os temas. Martorell, Cervantes, Dickens, Balzac, Tolstoi, Conrad, Thomas Mann, que o número e a ambição são tão importantes numa novela quanto a destreza estilística e a estratégia narrativa. Sartre, que as palavras são atos e que uma novela, uma peça de teatro, um ensaio, comprometidos com a atualidade e as melhores opções, podem mudar o curso da História. Camus e Orwell, que uma literatura desprovida de moral é desumana, e Malraux que o heroísmo e o épico cabiam na atualidade tanto quanto no tempo dos argonautas, da Odisséia e da Ilíada.
Se eu mencionasse neste discurso todos os escritores aos quais devo um pouco ou muito as suas sombras nos deixariam na escuridão. São inumeráveis. Além de me revelarem os segredos do ofício de contar, eles me fizeram explorar os abismos do humano, admirar seus feitos e horrorizar-me com os seus desvarios. Foram os amigos mais serviçais, os estimuladores da minha vocação, em cujos livros descobri que, mesmo nas piores circunstâncias, há esperança, e que vale a pena viver, nem que seja só porque sem a vida não poderíamos ler nem fantasiar histórias.
Algumas vezes me perguntei se em países como o meu, com poucos leitores e tantos pobres, analfabetos e injustiças, onde a cultura era privilégio de tão poucos, escrever não era um luxo escapista. Mas essas dúvidas nunca asfixiaram minha vocação, e continuei sempre escrevendo, mesmo naqueles períodos em que o trabalho de subsistência absorvia quase todo o meu tempo. Acho que fiz a coisa certa, pois, se para a literatura florescer numa sociedade fosse preciso lançar primeiro a alta cultura, a liberdade, a prosperidade e a justiça, isso não teria existido nunca. Ao contrário, graças à literatura, às consciências que ela formou, aos desejos e anseios que inspirou, ao desencanto do real com que retornamos da viagem a uma bela fantasia, a civilização é agora menos cruel do que quando os contadores de contos começaram a humanizar a vida com suas fábulas. Seríamos piores do que somos sem os bons livros que lemos, mais conformistas, menos inquietos e insubmissos, e o espírito crítico, o motor do progresso, nem sequer existiria. A exemplo de escrever, ler é protestar contra as insuficiências da vida. Quem procura na ficção o que não tem, diz, sem necessidade de dizer, e nem de saber, que a vida tal como é não nos basta para apagar a nossa sede de absoluto, fundamento da condição humana, e que deveria ser melhor. Inventamos as ficções para podermos viver de, alguma maneira, as muitas vidas que queríamos ter, quando apenas dispomos de uma só.
Sem as ficções seríamos menos conscientes da importância da liberdade para que a vida seja suportável e do inferno em que ela se converte quando dominada por um tirano, uma ideologia ou uma religião. Quem duvida que a literatura, além de nos levar ao sonho da beleza e da felicidade, nos alerta contra toda forma de opressão, pergunte por que todos os regimes empenhados em controlar a conduta dos cidadãos, do berço ao túmulo, a temem tanto a ponto de estabelecerem regras de censura para reprimi-la, e vigiam com tanta suspeita os escritores independentes. Fazem isso porque sabem o risco que correm ao deixarem que a imaginação flua pelos livros, como quão sediciosas se tornam as ficções quando o leitor compara a liberdade que as torna possíveis e que nelas se exerce, com o obscurantismo e o medo que o pressionam no mundo real. Queiram ou não, saibam disso ou não, os criadores de fábulas, ao inventar histórias, propagam a insatisfação, mostrando que o mundo é mal feito, que a vida da fantasia é mais rica que a rotina cotidiana. Essa constatação cria raízes na sensibilidade e na consciência, torna os cidadãos mais difíceis de manipular, de aceitar as mentiras que querem fazer com que aceite, de que entre cassetetes, inquisidores e carcereiros vivem mais seguros e melhor. A boa literatura cria pontes entre pessoas diferentes, fazendo-nos gozar, sofrer ou nos surpreendermos, nos une sobre as barreiras das línguas, crenças, usos, costumes e preconceitos que nos separam. Quando a grande baleia branca sepulta o capitão Ahab no mar, o coração dos leitores se oprime do mesmo modo em Tóquio, Lima ou Tombuctu. Quando Emma Bovary toma arsênico, Anna Karênina se joga do trem e Julien Sorel sobe ao patíbulo; e quando, em El Sur, o urbano doutor Juan Dahlmann sai daquela vendinha do pampa para enfrentar o punhal de um matador; ou percebemos que todos os moradores de Comala, o povoado de Pedro Páramo, estão mortos, o abalo é semelhante no leitor que adora Buda, Confúcio, Cristo, Alá ou é agnóstico, vista terno e gravata, túnica, quimono ou bombachas. A literatura cria uma fraternidade dentro da diversidade humana e apaga as fronteiras que erguem entre os homens e mulheres a ignorância, as ideologias, as religiões, os idiomas e a estupidez.
Como todas as épocas tiveram os seus espantos, a nossa é a dos fanáticos, dos terroristas suicidas, antiga espécie convencida de que matando se chega ao paraíso, de que o sangue dos inocentes lava as afrontas coletivas, corrige as injustiças e impõe a verdade sobre as falsas crenças. Inumeráveis vítimas são imoladas todos os dias em diversos locais do mundo por aqueles que se sentem donos de verdades absolutas. Acreditávamos que com a queda dos impérios totalitários a convivência, a paz, o pluralismo, os direitos humanos se imporiam e o mundo deixaria para trás os holocaustos, genocídios, invasões e guerras de extermínio. Nada disso ocorreu. Novas formas de barbárie proliferam estimuladas pelo fanatismo, e com a multiplicação das armas de destruição em massa não se pode excluir que algum grupelho de redentores enlouquecidos provoque um dia um cataclismo nuclear. É preciso ir atrás deles, enfrentá-los e derrotá-los. Não são muitos, embora o estrondo dos seus crimes ecoe por todo o planeta e nos encham de horror os pesadelos que provocam. Não devemos nos intimidar ante os que querem tirar a liberdade que conquistamos na longa façanha da civilização. Defendamos a democracia liberal que, com todas as suas limitações, ainda significa o pluralismo político, a convivência, a tolerância, os direitos humanos, o respeito à crítica, a legalidade, as eleições livres, a alternância de poder, tudo aquilo que nos tirou da vida selvagem e nos faz aproximar - embora nunca cheguemos a alcançá-la - da formosa e perfeita vida fingida pela literatura, aquela que só inventando, escrevendo e lendo podemos merecer. Ao enfrentarmos os fanáticos homicidas defendemos o nosso direito de sonhar e de tornar nossos sonhos realidade.
Quando jovem, como muitos escritores da minha geração, fui marxista e acreditava que o socialismo seria o remédio para a exploração e as injustiças sociais que dominavam o meu país, a América Latina e o resto do Terceiro Mundo. Minha decepção com o estatismo e o coletivismo e a minha passagem para o democrata e liberal que sou - que tento ser - foi longa, difícil e ocorreu aos poucos por causa de episódios como a conversão da Revolução Cubana, que me entusiasmou de início, ao modelo autoritário e vertical da União Soviética, dos testemunhos dos dissidentes que conseguiam vazar dos muros do gulag, da invasão da Tchecoslováquia pelos países do Pacto de Varsóvia e graças a pensadores como Raymond Aron, Jean-François Revel, Isaiah Berlin e Karl Popper, aos quais devo a minha revalorização da cultura democrática e das sociedades abertas. Esses mestres foram um exemplo de lucidez e galhardia quando a intelligentsia ocidental parecia, por frivolidade ou oportunismo, ter sucumbido ao feitiço do socialismo soviético, ou pior ainda, à diabólica e sanguinária revolução cultural chinesa.
[...]
Tradução: Damian Kraus e Antonio Alberto Dias Castro.
Published on December 09, 2010 08:09
O tiro de Ron Paul contra o Fed pode sair pela culatra
Do Bloomberg:
A majority of Americans are dissatisfied with the nation's independent central bank, saying the U.S. Federal Reserve should either be brought under tighter political control or abolished outright, a poll shows.
The Bloomberg National Poll underlines the extent to which the central bank's standing has suffered as it has come under fire in Congress, first from Democrats for regulatory lapses before the financial crisis and then from Republicans for failing to revive an economy in which the jobless rate hovers near 10 percent. Voters from both parties have criticized the Fed's $3.3 trillion in aid to the financial system.
"The Fed had to do extraordinary things to keep us from going into a great depression, and the public doesn't see it this way," said Lyle Gramley, a former Fed governor who is now senior adviser at Potomac Research Group in Washington. "The last time we had any really severe criticism of the Fed was in the early-1980s, when the Fed was pursuing this brutally tight policy to keep inflation under control."
The survey, conducted Dec. 4-7, also shows deep skepticism, especially among Republicans, over the Fed's Nov. 3 announcement that it would buy bonds in an attempt to bring down unemployment and prevent deflation. More than half say the purchases won't help the economy.
The policy, known as quantitative easing, was the target of criticism in Washington and overseas. That prompted Fed Chairman Ben S. Bernanke to appear in an interview on CBS television's "60 Minutes" program on Dec. 5 to defend his actions.
Across the Spectrum
Americans across the political spectrum say the Fed shouldn't retain its current structure of independence. Asked if the central bank should be more accountable to Congress, left independent or abolished entirely, 39 percent said it should be held more accountable and 16 percent that it should be abolished. Only 37 percent favor the status quo.
In a previous poll, conducted Oct. 7-10, 35 percent of Americans said the Fed should be radically overhauled, while 8 percent said it should be abolished.
[...]
Comento: A campanha dos libertários, liderada por Ron Paul, pode acabar ajudando o inimigo. Sim, todos aqueles que desconfiam muito do excesso de poder inflacionário do Fed podem vibrar com a pesquisa que mostra o dobro de pessoas defendendo o fim do Fed. Eu mesmo, em resenha do livro de Ron Paul ("End the Fed") para a revista Banco de Idéias, do Instituto Liberal, cheguei a defender esta bandeira. O problema é o que colocar em seu lugar, na prática. Uma vez que o retorno do padrão-ouro parece fora de questão atualmente, e que um sistema de "free banking" parece mais distante ainda, a probabilidade maior é esta que está se confirmando: os ataques ao Fed vão gerar maior controle político sobre a instituição. Em outras palavras, o Fed não será abolido, mas terá menor independência. Será que isso é desejável mesmo? Nós, brasileiros, sabemos o que é ter um banco central politizado. É, possivelmente, o pior dos mundos no que se refere ao controle da moeda. Um Fed mais obediente à Casa Branca não é o sonho de liberal algum. Mas talvez seja o resultado concreto da campanha contra a instituição. O tiro pode ter saído pela culatra.
A majority of Americans are dissatisfied with the nation's independent central bank, saying the U.S. Federal Reserve should either be brought under tighter political control or abolished outright, a poll shows.
The Bloomberg National Poll underlines the extent to which the central bank's standing has suffered as it has come under fire in Congress, first from Democrats for regulatory lapses before the financial crisis and then from Republicans for failing to revive an economy in which the jobless rate hovers near 10 percent. Voters from both parties have criticized the Fed's $3.3 trillion in aid to the financial system.
"The Fed had to do extraordinary things to keep us from going into a great depression, and the public doesn't see it this way," said Lyle Gramley, a former Fed governor who is now senior adviser at Potomac Research Group in Washington. "The last time we had any really severe criticism of the Fed was in the early-1980s, when the Fed was pursuing this brutally tight policy to keep inflation under control."
The survey, conducted Dec. 4-7, also shows deep skepticism, especially among Republicans, over the Fed's Nov. 3 announcement that it would buy bonds in an attempt to bring down unemployment and prevent deflation. More than half say the purchases won't help the economy.
The policy, known as quantitative easing, was the target of criticism in Washington and overseas. That prompted Fed Chairman Ben S. Bernanke to appear in an interview on CBS television's "60 Minutes" program on Dec. 5 to defend his actions.
Across the Spectrum
Americans across the political spectrum say the Fed shouldn't retain its current structure of independence. Asked if the central bank should be more accountable to Congress, left independent or abolished entirely, 39 percent said it should be held more accountable and 16 percent that it should be abolished. Only 37 percent favor the status quo.
In a previous poll, conducted Oct. 7-10, 35 percent of Americans said the Fed should be radically overhauled, while 8 percent said it should be abolished.
[...]
Comento: A campanha dos libertários, liderada por Ron Paul, pode acabar ajudando o inimigo. Sim, todos aqueles que desconfiam muito do excesso de poder inflacionário do Fed podem vibrar com a pesquisa que mostra o dobro de pessoas defendendo o fim do Fed. Eu mesmo, em resenha do livro de Ron Paul ("End the Fed") para a revista Banco de Idéias, do Instituto Liberal, cheguei a defender esta bandeira. O problema é o que colocar em seu lugar, na prática. Uma vez que o retorno do padrão-ouro parece fora de questão atualmente, e que um sistema de "free banking" parece mais distante ainda, a probabilidade maior é esta que está se confirmando: os ataques ao Fed vão gerar maior controle político sobre a instituição. Em outras palavras, o Fed não será abolido, mas terá menor independência. Será que isso é desejável mesmo? Nós, brasileiros, sabemos o que é ter um banco central politizado. É, possivelmente, o pior dos mundos no que se refere ao controle da moeda. Um Fed mais obediente à Casa Branca não é o sonho de liberal algum. Mas talvez seja o resultado concreto da campanha contra a instituição. O tiro pode ter saído pela culatra.
Published on December 09, 2010 03:38
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